Rio de Janeiro, 29 de Março de 2024

Amor: extinção ou transformação?

Amor: extinção ou transformação?
Texto escrito por Sergio Savian*

   Conheço muita gente antenada com o momento atual que se queixa da solidão e da incapacidade de encontrar alguém para um relacionamento   amoroso.
   A sensação é que faltam pessoas dispostas a amar, que se comprometam com as relações. O que mais se vê são encontros fugazes, falta de tolerância e do gosto por estar ao lado de alguém simplesmente para papear, dar uma volta no parque, jantar ou ver um filme juntinho.
 
  Falta alguém para compartilhar a vida, falta o afeto.

Uma leitora me pergunta: “Será que pessoas assim são uma espécie em extinção? Vale a pena continuar procurando alguém?”

Vamos olhar para esta pergunta de duas formas.
 
Primeiro, compreendendo que o momento é este e não outro, e cabe a cada um de nós termos jogo de cintura para lidarmos com a situação.
 
Por outro lado, também é preciso entender que o problema não está somente nos outros, mas que todos participam desta realidade, inclusive nós mesmos. Ninguém mais quer trocar a liberdade e a individualidade por um casamento convencional. Por exemplo, você se cuida, não bebe, não fuma, come alimentos saudáveis.
 
Daí, você encontra uma pessoa que come qualquer coisa, bebe, fuma. Eu lhe pergunto: “Você vai querer um romance com ela mesmo assim?” Não creio que sua resposta seja positiva. Não abrimos mão de nossos interesses individuais, do que já conquistamos, do nosso crescimento pessoal e espiritual em função de um amor romântico, como os de antigamente. Neste sentido, o obstáculo para amar está também dentro de você.

Nesta era de tanta tecnologia, quando as pessoas pensam e agem cada vez mais como máquinas, quando a lei do conforto supera qualquer desejo de um relacionamento mais profundo, o que nos resta é providenciarmos uma vida que faça sentido, mesmo que não tenhamos ao lado alguém para viver momentos afetivos.

Não é a toa que aumenta a quantidade de pessoas que adquire um animal de estimação para não sentirem-se sozinhas. Outras se dedicam a algum movimento solidário, senão a uma forma de expressão artística.

Mas, será que alguma coisa substitui a proximidade, a carícia e a conversação, típicos das relações antigas? Creio que não. Tampouco acredito que ficando melancólicos ou saudosistas vamos resolver a situação, afinal é sábio que olhemos para a realidade tal como ela é.

A saída é sermos criativos. Com limão se faz uma limonada. Aproveitamos o que temos e não lamentamos a falta. Quem sabe assim, com tranqüilidade e sabedoria, transcendendo a própria carência, tenhamos a sorte, para não falar em habilidade, de abrir o canal para encontrar alguém que nos ofereça algo especial. Digo mais, este canal é aberto quando fazemos a inversão: oferecendo ao invés de pedir. Aprendemos a apreciar o sabor da generosidade.
 
Quem dá é quem deve agradecer. Segundo Dalai Lama, é impossível sermos felizes se não contribuirmos para a felicidade alheia. Creio que esta é uma boa forma de lidarmos com o amor. E é bem capaz que assim você aproxime alguém que o reconheça como alguém interessante. Você deixa de ser um pedinte do amor e torna-se alguém que o atrai.

Gostaria de terminar este texto com duas palavras: humildade e simplicidade. Em minha opinião é o que precisamos para continuar amando, seja lá qual a cara do amor daqui para frente.
 

 

 

 

Crédito:Cris Padilha

Autor:Sergio Savians

Fonte:Universo da Mulher