Rio de Janeiro, 28 de Março de 2024

‘Scalaglobuphilie’

Em suas andanças pelo Marché aux Puces, em Paris, no começo do ano, a empresária Patricia Quentel, da 3 Plus, descobriu que seus compatriotas não vão mais à França só em busca de perfumes e grifes famosas. Acompanhada de amigos arquitetos, entrou numa loja da feira de antiguidades e perguntou se havia pinhas decorativas.

— A dona quis saber se éramos do Brasil porque nesse dia tinham passado vários brasileiros querendo a mesma coisa. Ela ficou intrigada e queria saber se era moda usar “boules d’escalier” na decoração. E disse que éramos todos malucos.

Helio Fraga se apaixonou pelas pinhas aos 16 anos

Para quem concorda, é bom saber que essa loucura tem até título em francês: scalaglobuphilie , nome dado às coleções de boules de rampes d"escalier . Derivadas dos ornamentos de escadas de jardim, em forma de bolas ou urnas, as boules começaram a aparecer nos corrimãos de escadas no interior das casas, por volta do século XIX, quando as decorações luxuosas estavam no auge e por uma razão bem prática, pois elas serviam para esconder a fixação das peças. De simples bolas de cristal passaram por uma grande transformação e foram fabricadas por marcas famosas como Baccarat, Saint Louis e Porcelaine de Paris em vários materiais como a opalina, os mille fiori, o mármore e o bronze. Hoje, algumas empresas fazem reedições das boules antigas mas restam poucas peças nos lugares de origem já que, como eram colocadas sem muita segurança, foram sendo roubadas. O decorador Hélio Fraga tem 96 pinhas espalhadas por sua casa. É o segundo maior colecionador do Rio e iniciou essa paixão aos 16 anos numa viagem que fez à Bahia:

— Compro em Nova York, Portugal ou Minas Gerais. Às vezes ganho de presente. Quando o cliente gosta, incluo na decoração.

No living principal Fraga fez duas composições como se fossem quadros ou esculturas. Segundo ele, as peças mais valiosas são as de Baccarat que têm o interior trabalhado. Os pares podem custar até U$ 5 mil, dependendo do material e da raridade.

O decorador Pedro Guimarães e o arquiteto Nando Grabowsky não colecionam, masnão hesitam em comprá-las para sua loja, o Studio Grabowsky. De cristal, overlay e Baccarat, elas se destacam entre os vários objetos.

— Antigamente as boules também enfeitavam a peseira de camas, nas fachadas e nas varandas. No Solar dos Neves, em São João Del Rey, por exemplo, elas estão nas sacadas. Mas os preços às vezes extrapolam. Encontrei um par numa feirinha de São Paulo e eles me pediram U$ 5 mil! — espanta-se Guimarães.

Os gêmeos Pedro e Paulo Scherrer, cada um dono de um antiquário no shopping da Siqueira Campos, têm pequenas coleções em suas casas:

— Elas foram largamente usadas na arquitetura brasileira do século XIX ornamentando peitoris e ângulos de grades dos balcões das casas. As pinhas de opalina, que são da segunda metade do século XIX, custam R$ 3 mil o par e as tchecas, de cristal, saem por R$ 2 mil — contam.

Crédito:Anna Beth

Autor:Suzete Aché

Fonte:O Globo