Rio de Janeiro, 28 de Março de 2024

O que acontece quando somos traídos?

 

Por Kátia Horpaczky

A traição é, com certeza, um dos maiores dramas sentimentais e talvez o que mais provoca dor no ser humano.
 
Uma das coisas que mais fazem perder a cabeça em um relacionamento é o ciúme acompanhado do medo de ser traído.
 
A traição é devastadora.
 
Destrói o relacionamento e também a auto-estima do traído.
 
Lidar com a situação de ter sido traído não é fácil.
 
Além da dor, muitas vezes insuportável, a traição nos  obriga a tomar decisões que não estavam em nossos planos.
 
Então como lidar com tudo isso?
 
Homens e mulheres sentem a mesma dor ao serem traídos.
 
O que muda é a forma como resolvem lidar com isso.
 
Hoje, os homens começam a manifestar mais a dor e o sofrimento e buscam auxilio nessa situação.
 
Já as mulheres, segundo a história da trajetória feminina de opressão e discriminação, se fortaleceram quanto às dores e maus tratos o que pode possibilitar a recuperação da traição em um tempo menor do que os homens.
 
 
Diante da constatação da traição, vale a pena, antes de tomar uma medida precipitada, de ter uma crise nervosa, conversar com o parceiro e esclarecer toda a situação.
 
Se a traição aconteceu, é porque a relação não vai bem.
 
Se você foi traído não deve sentir culpa nesse momento ou colocar-se como vítima.
 
O mais importante agora é descobrir o que levou seu companheiro a agir dessa maneira.
 
Escute o que o outro tem a dizer e faça uma avaliação da situação: vale a pena ou não levar esse relacionamento adiante?
 
É preciso agir de forma mais sábia.
 
Não é para se fazer de bom samaritano, aquele que tudo entende tudo compreende e aceitar que lhe façam de gato e sapato.
 
Essa atitude também não ajuda em nada, muito pelo contrário, toda a raiva e mágoa represada acabam por prejudicar.
 
Pela complexidade e polêmica que a infidelidade provoca, existem alguns mitos sem fundamento.
 
Um deles é o de que a maioria das traições destrói os casamentos.
 
 
De acordo com a pesquisa de Miriam Goldenberg, cerca de 30% dos traídos terminaram a relação.
 
O resultado revela que uma maioria de homens e mulheres briga, chora, xinga, faz escândalo, arruma as malas, vai embora, mas depois de passado esse momento, procura esquecer o que passou.
 
 
O maior obstáculo nesses casos é conseguir ultrapassar o choque inicial.
 
 
Pesquisa feita nos EUA e no Brasil aponta que 70% dos casais vivenciaram ao menos um caso extraconjugal e 90% não se separaram.
 
E 35% dos traídos terminam a relação, ou seja: mais da metade procura manter o casamento mesmo assim.
 
 
É possível perdoar uma traição dentro do relacionamento?
 
 
A traição rompe o trato com a confiança e enfraquece qualquer vínculo.
 
Um relacionamento que sobrevive a uma traição muda de formato porque a relação não é mais a mesma e nem os parceiros são os mesmos.
 
Pra que serve o perdão?
 
O perdão oferece a possibilidade de conseguir liberdade e alívio.
 
Quando perdoamos e somos perdoados nossas vidas sempre se transformam.
 
As doces promessas do perdão são mantidas.
 
E começamos uma nova relação conosco e com o mundo.
 
Perdoar só precisa de uma mudança na percepção, outra maneira de ver as pessoas e as circunstâncias que nos causam dor e sofrimento.
 
É muito difícil perdoar uma traição.
 
Perdoar ou não depende de cada pessoa ou do tipo de relação que existe.
 
Caso a decisão seja por perdoar e continuar a relação, não relembre o assunto a cada discussão.
 
Usar a traição sempre como arma em outras discussões só trará estresse e desgaste para a relação.
 
Perdoar é esquecer.
 
Se não houve esquecimento, não houve perdão. Então, o melhor a fazer é terminar o relacionamento.
 
Mas se você optou por perdoar, continuar em frente, muitas vezes a relação precisa passar por uma avaliação, uma repaginação, novos contratos terão de ser feitos, nesse caso se vocês acharem que não conseguirão isso sozinho, não hesitem, busquem auxilio profissional.
 
 
Acompanhe o depoimento de quem já enfrentou a traição do companheiro.
 
"A dor da traição é muito grande. Os sentimentos de amor e ódio se misturam".
"Quando amamos uma pessoa verdadeiramente, a traição é como uma facada no peito e nas costas. A dor é insuportável. E o pior de tudo, é que demora para passar e esquecer"
 
"Quando desconfiei que algo de errado estava acontecendo em minha relação (de 3 anos) tentei conversar, mas a pessoa que estava comigo, sempre mudava de assunto e dizia que não tinha nada a ver o que eu estava pensando.
 
Até que comecei a prestar mais atenção nas coisas que fazia. Conversava com a outra pela internet, na sala de bate papo, dizia que iria sair para resolver problemas de trabalho, quando na realidade, ia ao motel com a outra, entre outras situações que acabei, infelizmente, presenciando".
 
"Quando a bomba estourou, foi uma decepção muito grande em primeiro lugar, depois, senti que os meus sentimentos se misturavam; sentia que amava, mas sentia um ódio inexplicável, devido a tantas mentiras. Tive vontade de bater na cara, mas não tive coragem.
 
O que mais me deixou inconformada, é que eu tentei sempre conversar e a pessoa nunca teve coragem de abrir o jogo e o que era pior, por uma amiga que costumava freqüentar a casa Tentei perdoar, mas a mágoa que ficou foi muito maior. Não consegui ficar mais junto a essa pessoa, pois, não confiava mais".
 
"Não acredito que conseguiria ficar ao lado de uma pessoa que já me traiu. Por isso, das relações que tive, quase todas terminaram por traição, em nenhuma delas retornei a relação, pois, não acredito numa relação sadia depois de um ato como esse".
 
"Eu acho que ninguém perdoa sem ter alguma muleta para se escorar. É difícil engolir que o cara que você gosta trepou com outra. Não estou julgando ninguém, mas acho que quem perdoa é porque tem interesses que se sobrepõem aos sentimentos".
 
 
 
 
(*) Kátia Horpaczky
Psicóloga Clinica, Psicoterapeuta Sexual, Família e Casal.

 
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Kátia Horpaczky

Fonte:Universo da Mulher