Rio de Janeiro, 28 de Março de 2024

Violência contra a mulher: de quem é a culpa?

Violência contra a mulher: de quem é a culpa?
 
Professora da UERJ analisa um problema delicado e vivido diariamente por milhares de brasileiras
 

Os casos de violência contra a mulher têm ocupado lugar de destaque no noticiário recente. Entretanto, agressões desse tipo não são novidade. Ao contrário, esse é um problema antigo e dramático vivido em silêncio por milhares de brasileiras. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil 29% das mulheres sofrem ou já sofreram violência pratica por seus parceiros ao longo da vida.

Para Felicia Picanço, professora do Departamento de Ciências Sociais da UERJ e uma das autoras da pesquisa ´Gênero, Trabalho e Família no Brasil - em perspectiva comparada internacional´, o comportamento violento contra a mulher é resultado do processo de dominação masculina aliado a fatores da história de vida dos homens e mulheres. "A idéia de dominação masculina, embora não explique tudo, sintetiza a adesão a papéis tradicionais do que é ser homem e mulher na sociedade. Esses papéis são definidos a partir da crença na existência de uma hierarquia e da propriedade do homem sobre a mulher. Também na determinação das tarefas domésticas e cuidados com filhos como obrigação da mulher, e da provisão material e financeira como obrigação do homem".

Grande parte da violência contra a mulher acontece no cotidiano, não apenas em atos limites como o homicídio: "são agressões verbais, cerceamento da liberdade de circulação, agressões físicas e relações sexuais sob coação. O cárcere privado temporário e os homicídios existem e são cruéis mas, em geral, são precedidos de outros tipos de violência tratados algumas vezes sem a devida importância", explica a professora.  

Para Picanço, nas questões de gênero o País é tão tradicional quanto o Chile e o Japão, e está muito distante de outros como Suécia e EUA. Porém, a cultura não é o único fator causador da violência contra as mulheres, como lembra a professora: "a adesão a esses valores aliados a fatores da história de vida do parceiro - tais como ter vivido em famílias com histórico de agressões entre os pais, ser agressivo e consumir álcool - forma uma combinação propícia ao comportamento violento".

Com a criação das chamadas Delegacias da Mulher e a implementação da Lei Maria da Penha, criou-se uma expectativa de redução significativa deste tipo de violência. Entretanto, mesmo com estes mecanismos de proteção, as mulheres ainda relutam na hora de denunciar seus parceiros.

"Os fatores que podem explicar esse comportamento são: a adesão da própria mulher aos valores tradicionais que legitimam um certo nível de violência; a dependência financeira e afetiva das mulheres em relação aos cônjuges; o medo de retaliações violentas; falta de amparo em função do pouco convívio social e por se sentirem constrangidas em assumir que são vítimas de agressões", explica Felícia .

Para a professora, a Lei Maria da Penha foi um ganho como forma de criar mecanismos incisivos de combate à agressão, mas que sua eficácia é comprometida pelos já conhecidos problemas da justiça do país. "Na minha opinião, não há um caminho, há frentes de trabalho que devem estar voltadas para uma rigorosa punição dos agressores, bem como para a reeducação da geração atual e a socialização das novas gerações em valores mais igualitários dos papéis de gênero", conclui.

Crédito:Cris Padilha

Autor:Redação

Fonte:Universo da Mulher