Rio de Janeiro, 11 de Dezembro de 2024

Mudança e tolerância

Nada é permanente, exceto a mudança.
(Heráclito de Éfeso)
 
 
As pessoas não resistem às mudanças, resistem a ser mudadas.
 
É um mecanismo legítimo e natural de defesa.
 
Insistimos em tentar impor mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças.
 
Porém, mudar e mudar para melhor são coisas diferentes.
 
O dinheiro, por exemplo, muda as pessoas com a mesma frequência com que muda de mãos.
 
Mas, na verdade, ele não muda o homem: apenas o desmascara.
 
Esta é uma das mais importantes constatações já realizadas, pois auxilia-nos a identificar quem nos cerca: se um amigo, um colega ou um adversário.
 
Esta observação costuma dar-se tardiamente, quando danos foram causados, frustrações foram contabilizadas, amizades foram combalidas. Mas antes tarde, do que mais tarde. 
 
Os homens são sempre sinceros. Mudam de sinceridade, nada mais. Somos o que fazemos e o que fazemos para mudar o que somos.
 
Nos dias em que fazemos, existimos de fato; nos outros, apenas duramos.
 
Segundo William James, a maior descoberta da humanidade é que qualquer pessoa pode mudar de vida, mudando de atitude.
 
Talvez por isso a famosa Prece da serenidade seja tão dogmática: mudar as coisas que podem ser mudadas, aceitar as que não podem, e ter a sabedoria para reconhecer a diferença entre as duas.

Tolerância
 
Cada vida são muitos dias, dias após dias.
 
Caminhamos pela vida cruzando com ladrões, fantasmas, gigantes, velhos e moços, mestres e aprendizes. Mas sempre encontrando a nós mesmos. 
 
Na medida em que os anos passam tenho aprendido a me tornar um pouco pluma: ofereço menos resistência aos sacrifícios que a vida impõe e suporto melhor as dificuldades.
 
Aprendi a descansar em lugares tranquilos e a deixar para trás as coisas que não preciso carregar, como ressentimentos, mágoas e decepções. Aprendi a valorizar não o olhar, mas a coisa olhada; não o pensar, mas o sentir.
Aprendi que as pessoas, em regra, não estão contra mim, mas a favor delas. 
 
Por isso, deixei de nutrir expectativas de qualquer ordem a respeito das pessoas e me surpreender com atitudes insensatas.
 
Seria desejável que todos agissem com bom senso, vendo as coisas como são e fazendo-as como deveriam ser feitas.
 
Mas no mundo real, o bom senso é a única coisa bem distribuída:todos garantem possuir o suficiente...
 
Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer.
 
Pouco aprendemos com nossa experiência; muito aprendemos refletindo sobre nossa experiência. Temos nossas fraquezas e necessidades, impostas ou autoimpostas.
 
Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam, disse François Rabelais.
 
Por tudo isso, é preciso tolerância. É preciso também flexibilidade. Mas é preciso policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores, adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.
 
 
PS: O texto utiliza frases de Albert Camus, Descartes, James Joyce, Melody Arnett, Padre Antônio Vieira, Peter Senge, Robert Sinclair e Tristan
Bernard.
 
* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira,
liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor
de outras cinco obras.
 
Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br
 
 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Tom Coelho

Fonte:www.tomcoelho.com.br