Rio de Janeiro, 19 de Abril de 2024

Pobre coração

Pobre coração
Caixa de Pandora ou um baú de recordações.
 
Para uns mero detalhe, para outros deficiência.
 
Há os que dele lembram apenas quando os convém. Outros o fazem de trapo se utilizando para momentos instantâneos ou imediatos.
 
Seja como ou o que for, o coração se reflete à luz com a forma que lhe damos. Move-se na tristeza ou na alegria, na decepção ou na exaltação, impulsionado por sentimentos diversos, porém, nem sempre bem intencionados. 
 
Ativo apenas na cadência de seus batimentos, é quase sempre paciente e passivo. Reserva em si uma existência incompleta. Composto de sensações – muitas vezes desavisadas, está pronto para servir.
 
Puro e inocente bate no ritmo de sua morada e sobrevive como a esperar, infinitamente, pelo dia exato em que será luz ao invés de mera sombra. Pena que nós, como donos, damos mais atenção ao umbigo, estômago, pernas, unhas, do que ao fatigado e esperançoso coração. 
 
Claro, há alguns que ainda reservam segundos de seu valorozo tempo a ele, mas, muitas vezes assim o fazem na certeza de receberem em troca algo mais significativo que um sentimento apenas.
 
Quem sabe um ego inflado, um anel de brilhantes, uma gravata italiana. Apenas recordamos de sua existência quando nosso prazer fala mais alto. Mal sabemos que toda ação é acompanhada de uma reação e esta nem sempre depende de nós para ser controlada.
 
Seguimos fazendo dele nosso cesto exclusivo de problemas e insatisfações. Talvez caixa de algumas raras reflexões, mas nem sempre feitas com o intuito de um descanso ou de reais ações. Vivemos da equivocada idéia que o teremos sempre como alvo de nosso egoísmo, solidão e vaidade. Podendo fazer uso dele sempre para conseguir o que queremos. 
 
Há quem diga que por ele é guiado.
 
Será mesmo?
 
Ou simplesmente o guiamos a nosso bel prazer nem dando chance para a real manifestação dos sentimentos.
 
Não seria primeiro a razão e depois a emoção a válvula que impulsiona todas as nossas relações modernas?
 
Não lembramos – ou fingimos esquecer – que ele, assim, como todo o nosso resto ficará para trás num dia qualquer e se não tivermos feitos bom uso dele, só nos restará um músculo sem forças, fraco e vazio, nem podendo de memórias sobreviver.
 
Há em vida um “ser” mais mal usado e abusado quanto o coração?
 
Trabalha incansavelmente na tentativa, muitas vezes vã, de receber a atenção devida ou o alimento chamado sentimento e ser finalmente correspondido por outro já cansado, mas esperançoso coração.
 
Independente da idade, raça, sexo...está na labuta, mas não encontra a resposta à sua existência emocional ou a chave de sua solidão.
 
E segue, como um mero escravo, à mercê dos caprichos de seus próprios donos.
 
 
Contato com a autora: mayarapaz@hotmail.com
Orkut: Mayara Paz

Crédito:Mayara Paz

Autor:Mayara Paz

Fonte:Universo da Mulher