Rio de Janeiro, 28 de Março de 2024

Coçar os olhos pode levar ao aparecimento de ceratocone

Coçar os olhos pode levar ao aparecimento de ceratocone
 
Uma a cada duas mil pessoas tem ceratocone. A maioria desconhece.
 

Pessoas que têm o costume de coçar os olhos devem ficar atentos.

 

Por menor que seja o esforço desencadeado no ato de coçar, o trauma constante pode fragilizar a córnea, deixando-a mais flexível, podendo alterar sua forma e desencadear o aparecimento e progressão de uma doença chamada ceratocone. Quem faz o alerta é o especialista em córnea e doenças externas do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), o oftalmologista Patrick Tzelikis.

 

O ceratocone é uma irregularidade não-inflamatória, de origem multifatorial, na qual a córnea sofre mudanças em sua estrutura, tornando-se mais fina e obtendo o formato de cone. Este problema tem origem desconhecida, mas está ligado a alguns fatores determinantes. "Uma a cada duas mil pessoas apresenta o quadro de ceratocone. A maioria sequer sabe que é portador. Indivíduos que sofrem de alergia, ou que já possuem registro de ceratocone na família, bem como adolescentes, que apresentam baixa visão e costumam esfregar os olhos são potenciais pacientes desta alteração. Cerca de 80% destes pacientes têm entre 15 e 30 anos de idade", constata o médico.

 

Sintomas - De acordo com Tzelikis os sintomas do ceratocone são muito parecidos com qualquer outro defeito refrativo. "O ceratocone não dói, nem faz lacrimejar. Geralmente o paciente apresenta um quadro de fotofobia (sensibilidade à luz) e baixa acuidade visual mesmo com o uso dos óculos." Outro sintoma é a percepção de múltiplas imagens fantasmas. A maioria dos casos inicia-se na puberdade e apresenta uma progressão até meados dos 30 anos de idade. A partir daí, existe uma tendência a estabilização. A doença costuma afetar ambos os olhos, mas em geral de maneira bem assimétrica, sendo um lado mais acometido do que o outro. "Uma das perguntas mais frequentes no consultório diz respeito à velocidade de progressão da doença, quanto minha visão ainda vai piorar ? Será que eu vou precisar de cirurgia ? Infelizmente para essas perguntas ainda não existe resposta", adianta o médico.

 

Diagnóstico - O simples exame de refração não detecta a presença de ceratocone, conforme explica o especialista do HOB. "Para diagnosticar a alteração na córnea, é preciso que o paciente seja submetido ao exame de ceratoscopia computadorizada e mapa de elevação da córnea e paquimetria, o resultado mostra o relevo da córnea e pode confirmar o quadro de ceratocone", afirma.

 

Tratamento - Atualmente, existem várias opções de tratamento. Segundo Tzelikis, o ceratocone não tem cura nem a córnea volta a seu estado original, mas os tratamentos disponíveis conseguem corrigir os altos graus de astigmatismo, estabilizar a doença e reduzir a deformidade da córnea.

 

 

 

"Os óculos e as lentes de contato rígidas conseguem diminuir o astigmatismo. Outro tratamento é o Anel de Ferrara, técnica desenvolvida no Brasil, na qual uma pequena incisão é feita na córnea e dois pequenos aros são introduzidos para aplanar sua superfície. É normalmente indicado para quem não consegue se adaptar às lentes", comenta.

 

Crosslinking - Atualmente, o crosslinking, procedimento que estabiliza o ceratocone, fortalece e enrijecesse a córnea tem sido uma alternativa. A técnica leva em torno de 30 minutos para ser executada e consiste, primeiramente, na aplicação de colírio de riboflavina (vitamina B) de cinco em cinco minutos. Em seguida, a exposição da córnea à luz UVA (ultra violeta) disparada pela máquina específica para o tratamento.

 

Com a finalidade de retardar o avanço do ceratocone, o crosslinking é a aposta dos oftalmologistas para conter a evolução da deformação causada. O crosslinking permite que a córnea fique mais rígida.   

 

O mais recente aparelho de crosslinking adquirido pelo HOB é o XLink (Corneal Crosslinking System), da empresa OPTO. O equipamento é de tecnologia nacional e, segundo especialistas do Hospital, não deixa a desejar em relação aos outros dois modelos importados. "A tecnologia brasileira possui os mesmos atributos e vantagens que os dois equipamentos europeus que tratam o ceratocone", conclui o oftalmologista Tzelikis. O novo aparelho fornece a energia de forma homogênea sobre a córnea a ser tratada. Possui um sistema de autocalibração, o que permite ao profissional a certeza de que a quantidade de luz emitida é a exatamente a desejada.

 

Outra opção de tratamento é o transplante de córnea, procedimento que, segundo Tzelikis, apresenta excelente resultado, com quase 90% de sucesso, mas depende da disponibilidade do órgão em bancos de córnea, assinala.

 

Cuidados - o oftalmologista Patrick Tzelikis sugere alguns cuidados essenciais para evitar o ceratocone ou impedir o agravamento do quadro. "Ao sentir vontade de coçar o olho, faça uso de colírios para coceira (chamados de anti-histamínicos) ou de compressa de água gelada. A consulta periódica ao oftalmologista ajuda na prevenção.

 

Outro conselho do médico é que todo paciente com astigmatismo e que apresenta perda de visão deve procurar um oftalmologista e exigir um exame de ceratoscopia computadorizada. O diagnóstico precoce diminui a perda da qualidade de visão e garante tratamento mais eficaz contra o ceratocone", orienta.

 

Crédito:Cris Padilha

Autor:Teresa Cristina Machado

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