Rio de Janeiro, 11 de Dezembro de 2024

A importância do preservativo para prevenir a uretrite

Uretrite é o nome genérico empregado para designar a inflamação ou a infecção na uretra, canal que sai da bexiga e chega ao meato urinário, o ponto de contato com o meio exterior. 
 
A uretrite gonocócica, causada pela bactéria da gonorréia, tem manifestações diferentes no homem e na mulher.
 
No homem, a partir do segundo ou terceiro dia após o contágio, através da relação sexual, sem uso de preservativos, surgem sintomas como ardor ao urinar e presença de secreção purulenta em grande quantidade.
 
“Freqüentemente, aumentam o número de micções durante o dia, só que a pessoa urina pequenas quantidades e, quando termina, continua com a sensação de que a bexiga não foi esvaziada por completo.
 
Um ardor muito forte na uretra também é outro sintoma da doença”, explica o urologista Ricardo de La Roca.
 
O período de incubação dessa moléstia, em média, gira em torno de três dias a contar da relação sexual sem uso de preservativo.
 
Por vezes, a contaminação ocorre não só por relação sexual vaginal, mas também oral, por meio de parceiras(os) que abrigam o gonococo em suas bocas.
 
A uretrite causada por Clamídia (Chlamydia trachomatis), ou micoplasma, é a doença sexualmente transmissível de maior prevalência no mundo todo.
 
Sua manifestação é semelhante à da gonorréia - dor ao urinar e aumento do número de micções - mas existem algumas diferenças.
 
“O período de incubação é um pouco mais longo, em torno de dez, quinze dias entre a relação sexual e o aparecimento dos sintomas. E, na maioria das vezes, a secreção que sai pelo canal da uretra não é cor de pus, é mais clara. Em algumas situações não existem sintomas e o homem ou a mulher são portadores inconscientes desta bactéria”, afirma o médico.
 
As uretrites podem ser causadas também pelo herpes, pelo papilomavírus (HPV), e por outras bactérias que no intestino fazem parte da flora normal, mas no caso de relações sexuais anais, podem infectar a uretra.
 
Diante de sintomas como dor intensa ao urinar e pouca secreção, é importante considerar a hipótese de herpes genital, porque a lesão pode estar localizada dentro do meato uretral.
 
Para as mulheres com queixa de dor ao urinar, deve ser solicitado um exame de cultura de urina para descartar a presença de Escherichia coli ou de outras bactérias causadoras de cistite.
 
Como as doenças se manifestam
 
Para entender a gravidade da uretrite é importante explicar as manifestações da doença na uretra masculina e na uretra feminina.
 
“Tanto na gonorréia quanto na clamídia, as mulheres podem não apresentar nenhuma sintomatologia ou apresentar sintomas semelhantes aos das cistites, o que torna obrigatórios a coleta de material para análise da secreção e o exame de urina”, explica o urologista, que também é assistente estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris – Hospital de la Pitié-Salpetrière.
 
Nas mulheres, a clamídia pode subir pelos genitais, atravessar o colo uterino, atingir as trompas que ligam os ovários ao útero e provocar uma doença inflamatória pélvica aguda.
 
“Esse processo infeccioso também causado pela bactéria da gonorréia pode gerar obstrução nas trompas e impedir o encontro do óvulo com o espermatozóide, levando à infertilidade ou à gravidez tubária, porque o ovo fecundado não consegue chegar ao útero”, diz o médico. A complicação mais grave da doença inflamatória pélvica é a septicemia, uma infecção generalizada que pode levar ao óbito.
 
A gonorréia pode ser transmitida verticalmente da mulher grávida para o feto. Essa infecção ocorre no momento da passagem da criança pelo canal de parto. Uma vez infectada pela bactéria da gonorréia, em 48 horas, a criança pode desenvolver um quadro irritativo nos olhos, com secreção purulenta muito intensa e risco de perder a visão e desenvolver meningite.
 
“O tratamento preventivo feito na maternidade com colírio de nitrato de prata previne a oftalmia gonocócica, mas não a conjuntivite pela clamídia. Daí a importância de pesquisar a presença das bactérias Neisseria gonorrheae e Chlamydia, durante a gravidez, para evitar o contágio do bebê”, recomenda o médico.
 
A maior parte dos homens infectados manifesta os sintomas através do aparecimento da secreção uretral, mas alguns são portadores aparentemente saudáveis. “A clamídia agride as estruturas internas do genital masculino, o epidídimo, provocando inchaço do escroto, que é mais acentuado na uretrite causada pela gonorréia, uma vez que os sinais e sintomas da clamídia são menos aparentes”, explica o especialista em Urologia.
 
Ainda não há consenso a respeito da relação entre a infertilidade masculina e a clamídia, mas há pesquisas investigando se a obstrução nos genitais masculinos, que impede a passagem dos espermatozóides e o homem de ter filhos pode ser provocada por essa bactéria. No caso da gonorréia não bem tratada podem ocorrer futuramente estreitamentos da uretra, dificultando a micção e exigindo cirurgias para a desobstrução deste canal urinário.
 
Diagnóstico e tratamento
 
É fundamental insistir na conscientização das pessoas. Só quando elas tomam consciência da importância de fazer sexo seguro e de não se descuidar do uso de preservativos, a possibilidade de contrair doenças sexualmente transmissíveis diminui. “A conscientização não pode se restringir a campanhas pontuais, no Carnaval, nas férias, ou no Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. O trabalho tem de ser constante, sempre visando à mudança de atitudes e de comportamento. É um trabalho educativo, onde vários atores sociais devem estar envolvidos”, diz o médico.
 
 
Para fazer o diagnóstico preciso da gonorréia ou da clamídia, o médico solicita a coleta do material adequado para fazer a coloração por meio de corantes específicos. “No caso da gonorréia, como o gonococo não está dentro da célula, o resultado sai em 15 minutos. A clamídia obriga a coleta de material por esfregaço na uretra ou no colo do útero, a fim de submetê-lo ao exame de imunoflorescência direta, que permite visualizar, num microscópio especial,  os corpúsculos elementares que adquirem a cor de maçã verde”, explica o urologista. O tratamento em geral é por administração de antibióticos, específicos para cada caso, sendo que o índice de cura é elevado, se diagnosticado precocemente.
 
Se for detectada a presença de clamídia, tanto o paciente, quanto sua parceira(o) sexual devem fazer o tratamento. Mulheres grávidas portadoras dessa bactéria exigem muito cuidado com o uso da medicação para não comprometer o feto. O mesmo cuidado deve ser tomado com os recém-nascidos, que não podem receber as drogas indicadas para os adultos e mulheres não grávidas. “O correto é procurar um especialista, urologista ou ginecologista, que após o correto diagnóstico indicará a melhor solução para a cura da doença”, diz Ricardo de La Roca.
 

Crédito:Márcia Wirth

Autor:Ricardo de La Roca

Fonte:Excelência em Comunicação