Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2024

A pausa que assusta

Os hormônios femininos são produzidos até mais ou menos 50 anos, quando a mulher entra na menopausa. Ou seja, pára de menstruar. Mas, isto, é só o início. Sem produzir hormônios, surgem "novidades" que comprometem sua saúde e qualidade de vida.

São ondas de calor, suores noturnos, insônia, menor desejo sexual e dor durante o ato, irritabilidade, depressão, ansiedade, ressecamento vaginal, aumento de gordura na barriga, diminuição do brilho da pele, da atenção e da memória e riscos de infarto, derrame... Existem as que nada sentem, mas são minoria.

Nos anos 40, quando nem se pensava em reposição hormonal, a expectativa de vida das brasileiras girava em torno dos 43 anos. Hoje, é de 65, 70 anos. E médicos como o ginecologista Eli Marcelo Lakryc, da Unifesp (Universidade Federal São Paulo), não têm dúvida: tudo graças à reposição hormonal! "A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) diminui o risco de infarto e derrame, previne e trata a osteoporose, deixando os ossos mais resistentes."

Existem riscos, sérios, também, para quem se submete à TRH! Entre eles, o de aparecer câncer de útero e de mama. Mas, Eli Lakryc garante que é possível driblá-los: "O risco de câncer de útero pode ser eliminado com o uso de hormônios combinados (estrogênio mais progesterona)."

Quanto à possibilidade de se ter câncer de mama, as estatísticas mostram que 10 em cada 100 mulheres, entre 50 e 70 anos, terão a doença, com ou sem TRH.

"Com uso de hormônio por cinco anos, essa incidência aumenta e passa de 10 para 12, em cada 100 mulheres. E, acima disso, a chance é de 16, 17 de cada 100 mulheres terem câncer de mama".

Em contrapartida, salienta o médico, a mortalidade por câncer de mama é menor em quem usa hormônio. "Não chega a 5% as que morrem de câncer de mama.

Só que 50% das mulheres morrem de infarto, doença que pode ser prevenida através da TRH".

FOR EVER - Hormônio é para ser tomado todo dia e para sempre, a partir do aniversário de um ano da última menstruação. Mas, no Brasil, 50% das mulheres abandonam o tratamento depois de seis meses e 80% em dois anos.

E o motivo, para Eli Lakryc, é que a osteoporose e os males do coração são doenças silenciosas, que não dão sinais. Além disso, existem os efeitos colaterais: volta do sangramento em alguns casos, dor na mama, de cabeça, ganho de peso e o fato de o tratamento ser caro e prolongado.

Só que as vantagens de afastar a osteoporose e as doenças cardiovasculares só se obtêm com o uso constante de hormônio - no mínimo, dez anos.

Interromper o tratamento faz com que os inconvenientes da menopausa voltem à tona.

Existem diversas maneiras de administrá-lo: via vaginal (loção e creme), transdérmica (gel, cremes, adesivos e aerossóis), subcutânea (implantes), injetável e oral (comprimidos), sendo as duas últimas mais comuns no Brasil.

Mas sobram novidades na área que, acreditam os médicos, podem diminuir os mitos, medos e a resistência das mulheres à TRH.

AVANÇOS SINTÉTICOS - O Aerodiol (Server), por exemplo, é o primeiro medicamento de reposição via nasal. E estudos com mais de 3 mil pacientes constataram que ele não altera de forma expressiva a pressão arterial ou o peso das pacientes; reduz rapidamente os sintomas da menopausa, como os calores intensos e a irritabilidade, e tem efeitos colaterais menores que os apresentados nas TRHs à base de comprimidos, adesivos e géis.

A seu favor, Nilson de Melo, presidente da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo, diz, ainda, que "a administração nasal eleva a concentração do hormônio feminino no sistema nervoso central, o que traz benefícios a curto, médio e longo prazos".

O Activelle (Medley), usado na Europa e EUA, também promete revolucionar a TRH por aqui, porque usa dose de hormônio 50% menor do que a habitual.

"Trata-se do primeiro produto de dose baixa em comprimidos, com eficácia comprovada e diminuição dos efeitos indesejáveis comuns da TRH", garante Eli Lakryc, responsável pelas pesquisas sobre o medicamento no Brasil.

AJUDA DOS CÉUS -Hormônios derivados de plantas ou raízes, também, estão revolucionando a TRH, tradicionalmente aplicada com hormônios sintéticos.

São vários os fito hormônios, tais como o derivado do alcaçuz e da raiz do inhame mexicano.O mais conhecido é a isoflavoana, derivada da soja, cuja estrutura é semelhante ao estrogênio.

"Hormônios sintéticos, em geral, são processados em laboratório, da urina de éguas prenhes e são uma faca de dois gumes. Já a terapia de reposição hormonal natural, com fito hormônios, em cápsulas, óvulos ou cremes, é isenta de riscos", garante a reumatologista Sylvana Braga.

Adepta da reposição hormonal natural, ela reconhece os "efeitos maravilhosos" dos hormônios sintéticos, mas lembra do risco de câncer em quem tem predisposição física ou familiar para a doença.

O hormônio natural, também, tem seus inconvenientes: "Ele protege contra o câncer, diminui o colesterol, oferece riscos menos significativos, só que sua eficácia também é menor. As doses recomendadas têm de ser muito maiores para ter o mesmo efeito dos hormônios sintéticos, até porque a formulação química do fito hormônio é parecida com o estrogênio, mas não é o estrogênio. Além disso, ele não previne as doenças do coração, a osteoporose e pode engordar".

Há vários tratamentos de reposição hormonal que devem ser adequados conforme a fase do climatério (pré, perimenopausa e pós-menopausa), presença ou não de útero e doenças pré-existentes. O médico indicará o mais adequado e fará o acompanhamento periódico porque tratamento hormonal exige supervisão, mesmo que esteja dando certo.

Quando a TRH não é aconselhável, exercícios físicos - musculação, ginástica aeróbica, localizada e até hidroginástica - podem ser excelentes aliados.

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Tania Regina Pinto

Fonte:O Estado de São Paulo