Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2024

Dizer a Verdade


Todos nós sabemos que mentir não é correto, mas já nos questionamos se é correto dizer uma mentira "piedosa" ou "inofensiva"? 
 
A resposta é não. 
 
Chamamos "piedosas" às mentiras quando elas parecem inofensivas;  contudo, em termos espirituais falamos do certo e do errado baseando-nos num princípio de conteúdo, como as coisas na verdade são, e não pela sua aparência.
 
Mentir é Morrer Espiritualmente
 
Desde cedo aprendemos nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que uma mentira no Mundo dos Desejos "é tanto um crime como um suicídio", pois não só destrói o que falsamente representa, como também se destrói a si mesma no processo.

No estudo de Max Heindel desenvolvido em A Teia do Destino
(VI Parte: "A criação do ambiente — A génese das enfermidades mentais e físicas") aprendemos que os nossos padrões de pensamento durante a vida têm um impacto direto na saúde do corpo, do qual depende a nossa condição física em vida, e ao nos alinharmos com o que é verdadeiro usufruiremos de uma melhor saúde no futuro.

Amar a Verdade
 
Assim, quando dizemos "a verdade" referimo-nos ao que dizemos em relação ao que percebemos como tal, e também em relação à forma que nosso cérebro registra no mundo invisível. 
 
Se tivermos uma coisa em mente e a adulteramos, estamos mentindo. 
 
Se fizermos pouco esforço no sentido de vermos claramente, de sermos objetivos e se formos descuidados com a verdade, tornar-nos-emos igualmente culpados. 
 
Donde se conclui que temos de amar a Verdade para que possamos buscá-la e eventualmente encontrá-la.
 
 
Egocentrismo
 
 Ao mentirmos, fazemos com um objetivo: a pessoa a quem mentimos, e o assunto sobre o qual mentimos. 
 
Ao mentir estamos desrespeitando alguém e estamos provando o quanto somos egocêntricos, protegendo os nossos próprios interesses, mesmo covardemente. 
 
Devemos ser covardes a este ponto?
Pode ser que sim. 
 
Trouxemos conosco do passado, e ainda trazemos, estas tendência inatas de auto-interesse e auto-proteção. 
 
Mas temos necessidade de continuar a fazê-lo?
 
Se a nossa jornada espiritual vai começar, ela tem de começar na palavra da VERDADE.
Dizer a verdade é o ponto de partida primordial.
 
Não amamos o ser humano ou a Deus quando mentimos. 
 
Se vamos amar o próximo como a nós mesmos, então comecemos por fornecer respostas verdadeiras, que nós próprios acharíamos aceitáveis — nem mais nem menos, a quem quer que seja. 
 
Dizer a verdade tanto aos que amamos como aos que não amamos é uma maneira de realizar as máximas
"Faz aos outros como gostarias que te fizessem a ti" e "Ama o teu inimigo", tal como é ensinado no Sermão na Montanha (Mateus, caps. 5 a 7).
 
 
Praticar para Alcançar a Perfeição
 
O apóstolo Tiago escreveu:
"Aquele que não peca no falar é homem perfeito, capaz de pôr freio ao corpo todo"(Tiago 3, 2).
 
Em Princípios Ocultos de Saúde e Cura, Max Heindel escreveu:
"As verdades eternas só são percebidas quando entramos nos mundos mais elevados e particularmente na Região do Pensamento Concreto; por isso temos de cometer erros e mais erros, apesar dos nossos esforços mais sérios, para saber e dizer sempre a verdade" (Capítulo V: «Causas específicas da doença»).
 
Precisamos de pôr em prática os nossos princípios Cristãos, começando agora mesmo a "dizer a verdade".
 

Humildade e Coragem
 
Dizer a verdade é muitas vezes uma experiência de humildade; a tentação da mentira é frequentemente utilizada para com alguém que sentimos como nosso adversário. 
 
Por essa razão, quando dizemos a verdade mostramos respeito pela pessoa a quem teríamos a tentação de negá-la, sobretudo se essa a verdade nos apontar algum erro.
 
Dizer a verdade nem sempre é fácil e pode ser prejudicial para a nossa reputação, até para a nossa vida, e pode exigir uma fé que simplesmente não possuímos.
 
Que fazer, então?
Não dizermos a verdade? 
 
Todavia o mínimo que podemos fazer é não mentir a nós mesmos num esforço para justificar uma mentira, e saber a diferença entre um pretexto e uma justificativa.
 
Corrie ten Boom escreveu no seu livro O Esconderijo (The Hiding Place) que, durante a ocupação Nazista, na Holanda, ela disse a verdade aos soldados que procuravam Judeus, apontando para a entrada do seu verdadeiro esconderijo. 
 
Sabe-se lá porquê, mas por um milagre de fé, os soldados não procuraram onde ela indicou.

Mentir a Deus
 
Nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, ensinaram-nos a tratar o próximo em termos do seu Eu Superior, aquela parte de Deus dentro de cada um de nós. 
 
Ao fazê-lo estamos a dirigir-nos a Deus como Ele se manifesta em nós. 
 
Mentiríamos a Deus?
 
Encontramos um conceito paralelo nas obras de Elman Bacher sobre Astrologia, onde ele diz que "os planetas são pessoas". 
 
As forças cósmicas representadas no nosso carta astrológica, que está em nós, manifesta-se em nós através de pessoas. 
 
Mentimos a nós mesmos? 
 
Infelizmente sim, e não poucas vezes.  Dizemos que não nos interessa, não sabemos, não conseguimos; e no entanto, importamo-nos, sabemos e, isso sim, conseguimos.
 
É injusto fazer previsões negativas sobre o que as pessoas poderiam dizer ou fazer para justificar mentir-lhes; as pessoas não esperam que lhes mintam, que as tratem com desrespeito, e por isso reagem negativamente.
 
Esta abordagem não é garantia imediata de afeição, e devemos ter cuidado para não nos «arrependermos» de ter dito a verdade. 
 
A primeira reação das pessoas raramente é a sua reação final, mas aqui a questão não é como as pessoas reagem a nós; o importante é que façamos a nossa parte e, se alguém deseja contribuir, que seja bem vindo.
 
Se mentirmos com medo do que alguém possa dizer ou fazer, tanto maior a razão para dizer a verdade; se nos deixamos levar pela cilada do medo, isso far-nos-á sentir inferiores. 
 
Dar respostas exatas, que servem o interesse de todas as partes envolvidas, serve a Verdade e serve a Deus.
 
A única coisa que temos em comum com os outros é Deus, e "Deus é a Verdade".
 
Se sacrificarmos Deus nos nossos relacionamentos, perderemos a dimensão dinâmica dessa relação, a dimensão em que nos damos, em que crescemos e encorajamos os outros a fazer o mesmo. 
 
Ao sacrificarmos o nosso pequeno ego, a nossa «face», em prol da Verdade, estamos a dar um valor real ao próximo; e estamos a viver segundo o nosso lema — o do "serviço amoroso e desinteressado pelos outros".

Diamantes em Estado Bruto
 
Dizer a verdade pode ser difícil quando não fazemos disso um princípio orientador da nossa vida, mas, como aspirantes espirituais, existe uma vantagem acrescida para dizermos a verdade.
 
Max Heindel compara os estudantes, a este nível da sua carreira evolucionária, com "diamantes em estado bruto". 
 
É através da dor de viver que somos polidos, que somos clarificados, e podemos receber e transmitir cada vez mais Luz. 
 
Dizer a verdade em relação a alguma coisa que nos envergonha, pode muito bem causar-nos a dor da humilhação. 
 
Mas não nos devíamos conter nesta purgação. 
 
Ela é parte da nossa experiência quando fazemos a oferenda da nossa natureza inferior sobre o Altar de Bronze nos fogos purificadores duma retrospecção nítida.
 
Se nos protegermos do devido reconhecimento, evadindo-nos, o que estamos a proteger?
O nosso eu inferior. 
 
Quem estamos a magoar?
 
Todos, incluindo o nosso Eu interior ou superior, pois interpomos o tecido das mentiras entre o mentiroso, o nosso eu pessoal, e a Verdade viva.
 
Mas temos medo. 
 
O que nos irá acontecer?
 
Esse é o ponto em que diferimos de Deus. 
 
Pedimos que a Sua vontade seja feita, e não a nossa. 
 
Se, ao mesmo tempo que recusamos mentir, abrimos a possibilidade de censura, libertámo-nos da prisão do isolamento, onde seríamos confinados pelo pecado.
 
Pouco ou nada do que é negativo se aderirá a nós, a menos que tenhamos contribuído para tal; mas isso não impede que nos arrependamos, e que oremos ao Pai para que mostre a Sua benevolência para conosco.
 
Essa benevolência pode vir de uma direção inesperada, até da parte do nosso acusador.
 
Enquanto as ações passadas são uma "causa" para as condições presentes, também as ações presentes determinam o nosso futuro, incluindo orações de arrependimento que podem ajudar a neutralizar o efeito de ações passadas injustas. 
 
Por boas razões nos ensinaram a arrepender-nos e a pedir perdão. 
 
O primeiro passo é confessar as nossas iniquidades.
 
Simplesmente dizer a verdade é a confissão mais básica e pode ser eficaz na dissipação de complexos neuróticos de culpa e sentimentos de inferioridade.
 
É a sensação ardente da humilhação, seguida do remorso sincero, que apaga a memória dos nossos erros do átomo-semente físico alojado no nosso coração.
 
Então, por que nos escondemos dessa experiência?
 
Se dizer a verdade nos leva frente a frente com o que fomos e fizemos, e com o que achamos censurável, então por que não dizer a verdade para que possamos repudiar e dissolver esse estado?
 
Não tenhamos medo: confiar nos outros em tudo o que dizemos, por mais incómodo ou doloroso que seja, trar-nos-á recompensas que nem podemos imaginar.
 
 
 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Jamis Lopez

Fonte:Universo da Mulher