Rio de Janeiro, 19 de Março de 2024

Limites na adolescência

Limites na adolescência
Os pais sempre esperaram da escola muito mais do que ela poderia dar aos seus alunos e a escola sempre duvidou da educação e formação que os pais dão aos seus filhos. Este tem sido um dos problemas que atrapalha muito quem fica no meio disso tudo: o aluno.
 
De um lado, os professores condenam a falta de limites e o pouco tempo que os pais dedicam aos filhos por conta de seus afazeres e profissão e os pais, por mais cara que seja a escola, bem equipada e com um corpo docente qualificado, não  têm suas expectativas atendidas, pois esperam mais dos orientadores, professores e diretores nos quesitos disciplina, coerência, orientação e liderança.
 
Hoje temos um público mais exigente nas salas de aula, mais sensível, antenado com suas necessidades, clamando por orientação e limites. Toda evolução dos últimos anos colaborou para que nossas crianças e adolescentes fossem estimulados a perceber e se posicionar frente a tudo e a todos, mas toda essa estimulação e exposição a vários tipos de estímulos os tornaram mais imediatistas, irritados, ansiosos, insatisfeitos e profundamente angustiados.
 
Estas são características dos jovens e crianças em alguns momentos de seu desenvolvimento, mas a hiper exposição a que estamos sujeitos, com os meios de comunicação mais rápidos, as tecnologias e a velocidade com que as coisas se tornam obsoletas, contribuíram para que estes sentimentos se potencializassem dificultando a vida de quem precisa aprender e de quem quer ensinar.
 
Somado a isso tudo, as exigências de sucesso, desempenho e aumento do volume e carga horária de trabalho impõem aos pais um desgaste, tanto emocional, quanto físico que a maioria tem dificuldade de administrar.  Com isso, a forma de nos relacionar com as pessoas, fatos e rotinas mudou alterando as condutas, e conseqüentemente, as noções de limites dada aos filhos.
 
Os pais passaram a ser naturalmente, pela ausência, mais permissivos, tolerantes e menos atuantes no limite pontual. Chamo de limite pontual a atuação exata que acontece quando o filho está necessitando de um não.  Com os pais fora de casa, mais tempo e sem poder atuar sobre o comportamento inadequado quando ele acontece, a escola se tornou um aliado poderoso na luta pela formação e educação de seus filhos.
 
Com certeza, a escola tem tentado acompanhar o ritmo que as coisas acontecem e tem feito muito com o pouco que algumas instituições tem a disposição, mas ainda é insuficiente.
 
Os alunos passam de quatro a seis horas em média nas escolas e mais um tanto em cursos complementares para que seu dia seja preenchido com atividades produtivas, culturais e adequadas. Os pais esperam que estas instituições primem pela boa orientação e formação, mas como não estão presentes e nem por perto o quanto gostariam, isto não os deixa seguros.
 
Essa distância cria um sentimento de frustração bilateral. De um lado escola, que não conhece ou conhece pouco os pais, e de outro os pais que não estão a par das regras, rotinas e orientações da escola.
Os pais e a escola precisam se aproximar.
 
Este relacionamento está longe de ser tranqüilo e deve ser revisto. Os pais precisam participar mais da escola, comparecer as reuniões, dar sugestões, colaborar com as iniciativas, incentivar o bom relacionamento de seus filhos com a instituição de ensino e sair da posição passiva do “estou pagando, eles que se virem” ou “o governo é que tem que dar jeito nisso”.
 
Os pais precisam estar perto dos professores e de seus filhos, conhecê-los, saber de que maneira eles se relacionam, qual a leitura que estes fazem das atitudes dos alunos, como lidam com a disciplina, os conflitos e o conteúdo programático, enfim, como pensam. A escola precisa saber o que esperar dos pais de seus alunos, suas necessidades, dúvidas, medos, expectativas e orientá-los a ser um braço da escola e somar esforços.
 
As crianças e adolescentes são fruto das oportunidades, da família e dos ambientes que freqüentam e, quando escola e família andarem juntas, teremos menos problemas com nossos jovens.
 
 
 
*Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo - CRP06/16669
 
 
 
PERFIL:
Formação:
Instituto Unificado Paulista / Faculdade Objetivo 1978 – 1982.
Atuação:
Psicóloga da Clínica de endocrinologia do Hospital Real Beneficência Portuguesa; desde 1984.
Extra-curricular:
Palestras ministradas aos pacientes obesos, com distúrbios glandulares e diabetes, desde 1989.
Aulas Ministradas aos residentes da clínica de endocrinologia do Hospital Beneficiência Portuguesa.
 
 

Crédito:Eleonora Chagas

Autor:Silvana Martani

Fonte:Materia Primma