Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2024

Vigorexia: a doença das academias - Por Silvana Martani

Vigorexia: a doença das academias - Por Silvana Martani
Quando circulamos pelas academias, praias, clubes ou mesmo nas ruas, não faltam olhares para os músculos masculinos bem torneados daqueles que se esforçam durante horas para modelar o corpo, que mais parece uma escultura.
 
O corpo sempre foi objeto de desejo e sedução e cada época da História cultuou um modelo a ser alcançado. Nos últimos anos, o objeto de desejo masculino é o corpo musculoso que transmite a idéia de vigor e força e, é atrás dessa idéia de força e poder, que alguns adoecem gravemente.
 
Vigorexia ou Overtraining, em inglês, é a dependência ou fixação por exercícios, ou seja, um transtorno que leva o indivíduo a realizar práticas esportivas de uma maneira fanática, independente das conseqüências que este exagero possa causar ao seu corpo.
 
Esse tipo de Transtorno Dismórfico Muscular é mais comum em homens e, com certeza, tem sua origem nos padrões de beleza vigentes. Estar malhado, sarado é estar lindo e é o que qualquer jovem deseja para se sentir aceito, seguro em seu grupo de convivência ou mesmo nos ambientes em que se insere e alguns são capazes de tudo para atingir este padrão e gozar de todos os seus “benefícios”.
 
Os jovens são vitimas constantes do padrão de aceitação físico divulgado pelas revistas, TVs e outros meios de comunicação. Estes veículos ditam regras de comportamento e beleza e, quanto mais jovem, mais suscetível a esse tipo de massificação. Dependendo da maneira de como é criado e da sua estrutura de personalidade, a dificuldade para se aceitar da maneira como se é e com os limites que se tem, será maior ou menor.
 
Para os jovens fora do padrão de beleza e com poucos recursos emocionais, resta sempre muito pouco com que negociar para se sentir seguro e é nesta constatação que sua sanidade pode ser ameaçada.
 
Dos anabolizantes, complementos alimentares, vitaminas às drogas para não sentir dor, vale tudo para ficar “bombado” em pouco tempo. As academias e seus inúmeros espelhos representam o sonho de muitos e a agonia de tantos.
 
Este homem, independente de seus músculos já serem bem desenvolvidos, se enxerga franzino no espelho e muito aquém do que gostaria, o que o leva a se exercitar várias horas todos os dias e nunca estar satisfeito. Devemos entender que este jovem desenvolveu um comprometimento do esquema corporal gravíssimo que o faz sofrer, e muito.
 
Esse tipo de transtorno acomete indivíduos com baixa auto-estima, inseguros, tímidos e introvertidos que acreditam que a aparência física irá transformá-los em alguém de sucesso que vai conseguir o que quer. Como o modelo perseguido é perfeito em todos os aspectos e a imagem no espelho representa  a imperfeição completa, essa necessidade se transforma em obsessão e doença emocional.
 
Frustrados pela imagem idealizada, os jovens passam a sofrer as conseqüências de sua compulsão, podendo apresentar crises de ansiedade, depressão, fobias, comportamentos compulsivos e repetidos (se olhar no espelho seguidamente, medir a largura de seus músculos), entre outros sintomas.
 
Os jovens não desenvolvem este tipo de transtorno de uma hora para outra, este é um processo lento que nasce no descrédito e no desprestigio, que pode ser percebido desde a infância ou puberdade.
 
Os pais menosprezam, normalmente, os comentários que seus filhos são capazes de pronunciar a cerca de sua aparência, pois acreditam que esta insatisfação é própria da idade e é; mas quando o filho evita se expor, se esquiva dos compromissos e se mostra muito angustiado, o problema se agravou definitivamente.
 
Neste momento, os pais precisam procurar ajuda para si e para o filho, pois todos já estão sofrendo. Estar diante de um filho doente é a pior dor que um pai é capaz de sentir e, se a doença for psiquiátrica, pior ainda, pois pode levá-lo a checar a forma como conduziu tanto a educação como o relacionamento com este filho. Por conta, disso muitos pais acabam não podendo ajudar seus filhos, pois não suportam a possibilidade de terem que se questionar.
 
Todos nós cometemos erros e os pais erram muito na tentativa de acertar. Precisamos dar a oportunidade aos nossos filhos de fazer as pazes com seus corpos e almas, pois só assim teremos feito toda diferença.
 
 
Silvana Martani é psicóloga da Clínica de Endocrinologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo  CRP 06/16669
 
 

Crédito:Eleonora Chagas

Autor:Silvana Martani

Fonte:MATÉRIA PRIMMA