Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2024

Suplementos vitamínicos: o poder dos mitos


Hoje, tornaram-se corriqueiros a prescrição e o uso rotineiro de suplementos vitamínicos para uma prevenção abstrata e cientificamente não comprovada de possíveis doenças crônicas ou para o tratamento do cansaço físico
 
 
É de espantar a ousadia dos grandes outdoors e das propagandas milionárias nos horários nobres da TV: ídolos do esporte atestando os benefícios e indicando o uso de suplementos vitamínicos para a cura do cansaço e do desânimo. “Personagens com caras maquiadas de apatia e desalinho rejuvenescem e ganham cores com o consumo desses suplementos, como o Popeye dos desenhos animados ao ingerir o milagroso espinafre”, diz a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.
 
Nos consultórios médicos, os profissionais se deparam com uma enorme predisposição dos pacientes em usar esses medicamentos, que foram incorporados ao dia-a-dia como a grande esperança de combater o estresse, as doenças crônicas e o envelhecimento. “É muito delicado se posicionar ‘contra tantos benefícios’, o paciente já vem ao consultório tendo em mente que ao final da consulta, lhe será prescrita uma vitamina. É uma tarefa árdua convencê-los da impropriedade do uso indiscriminado de tais suplementos”, afirma a médica.
 
Hoje, tornaram-se corriqueiros a prescrição e o uso rotineiro de suplementos vitamínicos para uma prevenção abstrata e cientificamente não comprovada de possíveis doenças crônicas ou para o tratamento do cansaço físico, fruto da vida moderna repleta de concorrência, compromissos em excesso e pouco descanso e lazer. “Sem querer entrar na discussão do lado ético da indústria que vende estes medicamentos, limito-me a fazer um comentário sobre os pacientes. É preocupante ver a ingenuidade deles em ceder à tentação de ter mais vigor tomando uma vitamina e até de sentirem-se melhor usando-a”, comenta a especialista.
 
A procura das razões que nos fazem envelhecer e adoecer nos levou à formulação da teoria do chamado estresse oxidativo. “A nomenclatura estranha nada mais é do que a lesão contínua e crônica de nossas células provocada por radiações ionizantes, luz ultra violenta e até pelo próprio oxigênio que respiramos, ou seja, viver e manter a vida geram naturalmente os famosos radicais livres”, explica a diretora do Citen.
 
 
E não há como viver sem produzi-los. Essa lesão contínua provocada pelos radicas livres é a base da teoria mais aceita até o momento para explicar o envelhecimento e as doenças crônicas. “Com isso, a busca por substâncias que inibem a formação desses radicais encontrou nos alimentos os principais antioxidantes estudados até o momento. Os mais importantes são: vitamina C, E, carotenóides, flavonóides e selênio”, informa.
 
 
 
O alimento é a grande fonte de vitaminas
 
 
 
A literatura médica está repleta de citações que atestam o incontestável benefício antioxidante de uma alimentação rica em frutas e vegetais, com menor incidência de doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. “Esses alimentos exercem tal efeito através de concentrações adequadas de antioxidantes, que atuam em conjunto com outras substâncias também presentes nesses alimentos, garantindo o efeito antioxidante eficaz”, explica a endocrinologista. A partir dessas evidências, a pesquisa científica passou a avaliar o benefício isolado de tais antioxidantes oferecidos em cápsulas e comprimidos, os suplementos vitamínicos.
 
 
 
Se os 60mg de vitamina C recomendados diariamente podem ser benéficos, que dirá as mega doses de até 1000mg presentes no mercado, pensarão alguns, ou até as 10.0000mg ingeridas pelo cientista Linus Pauling, antes de falecer vítima de câncer de pulmão, já que era um fumante inveterado. “Esse era o pensamento dominante quando foram preconizadas tais doses.
 
 
Logo, descobrimos que graças à capacidade de auto-proteção do nosso organismo, os rins eliminam a maior parte dessa vitamina em cápsulas, evitando catástrofes maiores”, informa Ellen Paiva. Além disso, podemos ilustrar tal situação com um exemplo simples: 100g de maçã com casca possui o efeito antioxidante de 500mg de vitamina C.
 
 
A maior vedete das vitaminas antioxidantes já havia sofrido um grande abalo em 2005, quando um estudo  publicado na revista Annals of Internal Medicine, analisando 136.000 pacientes, revelou que doses iguais ou superiores a 400UI de vitamina E poderiam aumentar a taxa de mortalidade por todas as causas e deveriam ser evitadas. “Importante ressaltar, que a recomendação diária é em torno de 10UI”, diz a médica.
 
 
 
Muito antes disso, o beta caroteno, muito utilizado em fórmulas vitamínicas milagrosas, já demonstrava seu poder deletério ao aumentar a incidência de câncer de pulmão, de acordo com os dados do estudo ATBC – The alpha-tocopherol, beta carotene câncer prevention study group, publicado no New England Journal of Medicine.
 
 
A pesquisa chegou a ser interrompida muito antes da data programada devido ao aumento da incidência de câncer de pulmão e da taxa de mortalidade dos pacientes que tomaram o suplemento. “Os autores chegaram à conclusão que esse carotenóide não deveria nunca ser utilizado em cápsulas vitamínicas”, comenta Ellen Paiva.
 
 
 
Para reforçar o coro contra os suplementos vitamínicos, acaba de ser publicado, fevereiro de 2007, na revista American Medical Association uma nova revisão que resume o resultado de nada menos do que 385 trabalhos científicos com 232.600 pacientes, avaliando o efeito antioxidante dos suplementos vitamínicos sobre a taxa de mortalidade por doenças em geral.
 
 
O resultado só vem confirmar os estudos anteriores: “o tratamento com beta caroteno, vitamina A e vitamina E pode aumentar a taxa de mortalidade... Não há evidência de que a vitamina C possa aumentar a longevidade... O papel potencial do selênio ainda necessita de futuros estudos”, informa o artigo.
 
 
 
“Se antes, os prescritores de tais vitaminas poderiam dizer ‘se não fizer bem, mal não faz’, hoje, diante de tantas evidências científicas, este argumento não pode mais ser utilizado”, alerta Ellen Paiva.
 
 
 
 
 
CITEN - Centro Integrado de Terapia Nutricional
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Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Márcia Wirth

Fonte:Excelência em Comunicação