Alerta: hidrocefalia de pressão normal pode ser confundida com mal de Alzheimer
Doença se manifesta em pacientes a partir dos 60 anos, porém, se diagnosticada precocemente e tratada, pode ter os sintomas revertidos de forma satisfatória O recurso mais moderno é a implantação de uma válvula programável que drena o acúmulo do fluído cerebral na quantidade apropriada
A hidrocefalia é uma doença caracterizada pelo acúmulo anormal do líquido cefalorraquidiano contido no crânio. Geralmente, é diagnosticada ainda na infância ou até durante a gestação, na fase intra-útero. O tratamento é realizado cirurgicamente e consiste na drenagem do líquido acumulado, por meio, geralmente, da implantação de válvulas capazes de manter o processo de drenagem que o organismo não é capaz de fazer naturalmente. Este recurso possibilita ao paciente manter vida normal. No entanto, o que poucos sabem é que uma nova forma de manifestação da doença tem se tornado cada vez mais comum: a hidrocefalia de pressão normal (HPN), que acomete pessoas com 60 anos ou mais, e que é, habitualmente, confundida e tratada como Mal de Alzheimer, devido à semelhança dos sintomas. Contudo, a principal diferença é que a hidrocefalia é uma doença tratável e praticamente reversível, se diagnosticada em tempo.
Estudos apontam que quando a doença é identificada precocemente, os sintomas podem ser revertidos em 80% dos casos se o tratamento for ministrado corretamente. Em alguns casos, o resultado do tratamento é 100% satisfatório, explica a gerente da Unidade de Negócios Codman da Johnson & Johnson Produtos Profissionais, Simone Langue. Um dos recursos mais modernos, comprovadamente eficaz e disponível hoje no mercado, é a implantação de uma válvula programável, denominada Hakin, que permite a drenagem em quantidade adequada do líquido acumulado. No Brasil, o produto está disponível há cerca de cinco anos e, nos Estados Unidos, foi aprovado pelo FDA (Food and Drugs Administration) em 1999. Na Europa é utilizada desde 1990. Um estudo realizado no Japão comprova que 80% dos pacientes que utilizaram este recurso tiveram os sintomas da doença revertidos após três meses de uso., diz Simone
Para o neurocirurgião Luiz Carlos de Alencastro, um dos poucos especialistas no Brasil que se dedica ao estudo da hidrocefalia de pressão normal, a principal dificuldade com relação à doença é o fato do diagnóstico preciso ser tardio, uma vez que os sintomas são muito similares aos da doença de Alzheimer (degeneração cerebral manifestada principalmente por sintomas de demência). Muitas vezes, o diagnóstico da hidrocefalia de pressão normal é realizado apenas quando a doença já está evoluída, reduzindo com isso, as margens de regressão dos sintomas, pois muitas vezes, o déficit já é definitivo ressalta.
Os principais sintomas da doença são os déficits cognitivos (falhas na memória, dificuldades de cálculo, raciocínio lento, dificuldade para reconhecer familiares, sintomas semelhantes aos da demência senil); problemas motores (dificuldade de locomoção, lentidão nos movimentos, desequilíbrio progressivo ao caminhar) e déficit esfincteriano (incontinência urinária e fecal).
A incidência da hidrocefalia de pressão normal cresce a cada dia. Estima-se que um quarto dos americanos que apresentam sintomas de demência relacionados ao Alzheimer ou ao mal de Parkinson, pode apresentar a HPN.
No caso da hidrocefalia de pressão normal, como o nome diz, a pressão intracraniana é normal, porém oscila com freqüência, torna-se elevada e apresenta picos, geralmente no período noturno. Pode também ter múltiplas causas: ser crônica ou ainda fruto de traumas com sangramentos, de processos infecciosos intracranianos, de hemorragias, entre outras ocorrências. Em muitos casos, a causa não é descoberta, porém, se o tratamento ocorre em tempo hábil, os sintomas desaparecem e o paciente leva uma vida normal, detalha Luiz Carlos Alencastro.
Diagnóstico
A hidrocefalia de pressão normal é identificada por meio de exames clínicos e de diagnóstico por imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, que apontam a dilatação dos ventrículos (cavidades do cérebro). Outros exames como a mensuração do fluxo liquórico, punção do líquor, entre outros também são realizados. A incidência da doença aumenta com o avanço da idade, porém são raros os casos em que o problema se manifesta antes dos 60 anos de idade. A doença afeta brutalmente a qualidade de vida, pois pode incapacitar totalmente o paciente. A evolução se dá de forma gradativa, porém, tem conseqüências graves (pode resultar em dificuldades respiratórias severas, tromboses, AVC acidente vascular cerebral, entre outros problemas) se não tratada de forma eficaz.
Eficácia do tratamento
Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de sucesso do tratamento. Embora não seja possível precisar que grupos de sintomas poderão ser revertidos integralmente, com a implantação da válvula programável, a grande maioria dos pacientes volta a ter vida normal, ressalta o neurocirurgião Luiz Carlos Alencastro. Ele explica que quanto maior o tempo em que a pressão intracraniana fica alterada, maior a chance do dano definitivo nos neurônios, pois a reversão da doença depende do sistema de células vivas e sadias do sistema neurológico.
O tratamento mais eficaz disponível hoje no mercado é o implante de válvula intracraniana, responsável pela drenagem do excesso do líquor. O dispositivo leva o líquor normalmente para o peritônio, na região abdominal, onde será reabsorvido naturalmente pelo organismo, ou ainda, drenará o líquido para uma veia que transporta o sangue, misturando as duas substâncias sem prejuízos ao paciente. A técnica varia de acordo com o quadro do paciente. No caso específico da válvula programável Hakin, um dispositivo cuja tecnologia é exclusividade da Johnson & Johnson Produtos Profissionais, o principal benefício recai sobre o fato de que o paciente pode ser submetido a apenas um procedimento cirúrgico, para a implantação da mesma.
Um dos principais benefícios e diferenciais desta válvula é que através de um processo indolor, não invasivo e rápido (com duração de poucos segundos), pode-se fazer o ajuste ideal de pressão para cada paciente. Esta é a única válvula que possui ajuste fino, com 18 diferentes níveis de pressão, o que permite precisão na programação e resultados superiores.
Uma vez que a válvula esteja implantada no paciente, o ajuste se dá no consultório do médico, em poucos segundos, de forma extracorpórea, não apresentando nenhum desconforto para o paciente. O controle da pressão intracraniana e do processo de drenagem é preciso com a válvula programável, afirma o gerente da Unidade de Negócios Codman da Johnson & Johnson Produtos Profissionais Simone Langue.
Hidrocefalia na infância
O dispositivo programável é indicado também para casos da hidrocefalia , diagnosticada ainda na infância e pode ser implantada até durante a gestação, na fase de desenvolvimento fetal intrauterina. A incidência da doença na infância é de um caso para cada mil nascimentos. O principal benefício da válvula Hakin utilizada em crianças é a redução da necessidade de cirurgias, pois nos casos em que ocorre a utilização de válvulas convencionais com pressão fixa, a criança é submetida a três a quatro cirurgias, em média, ao longo de seu desenvolvimento, para adequar a pressão e a capacidade de drenagem do dispositivo. Há casos em que o paciente é submetido a um número maior de procedimentos, afirma Simone.
Crédito:Luiz Affonso
Autor:Andréa Moraes
Fonte:Universo da Mulher