Rio de Janeiro, 28 de Março de 2024

Entenda a artrite reumatóide

Saiba mais sobre a doença responsável por grave inflamação nas juntas e que pode interferir diretamente em atividades simples do dia a dia 


Pouco conhecida, a artrite reumatóide é uma patologia auto-imune que atinge cerca de 1% da população mundial. A doença é caracterizada por um processo inflamatório crônico nas articulações, que pode evoluir para deformidades articulares. Como atinge freqüentemente as mãos, atividades simples do dia-a-dia podem ser comprometidas como pentear o cabelo ou trocar de roupa. Se não for adequada e precocemente tratada, maior é o risco de evolução para incapacidade, com prejuízo importante da qualidade de vida dos pacientes.

No Brasil, estima-se que cerca de 1,5 milhão de pessoas sejam acometidas pela artrite reumatóide, na maioria mulheres em idade economicamente ativa – entre 30 e 50 anos. E esse número deve aumentar expressivamente nos próximos anos com o envelhecimento da população. Apesar de tantas pessoas sofrerem com a enfermidade, ainda há muita confusão, dúvidas e mitos envolvendo o assunto. A dra. Sonia Maria Alvarenga Anti, médica reumatologista do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e da Faculdade de Medicina ABC e membro da Comissão de artrite reumatóide da Sociedade Brasileira de Reumatologia esclarece aspectos importantes da doença. 

1 – Como se desenvolve a artrite reumatóide?

Apesar do grande número de pesquisas nesta área, ainda não é conhecida a causa da artrite reumatóide (AR). O sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo contra agressões, tem um importante papel na inflamação e no dano às articulações. Quando um elemento estranho ou um agente agressor “ataca” o organismo, células de defesa produzem diferentes substâncias que iniciam a resposta imunológica. Uma das etapas deste processo é a produção de anticorpos. No entanto, algumas vezes, por algum motivo desconhecido o sistema imunológico inicia uma resposta imunológica anormal, causando um grave  e crônico processo inflamatório na membrana sinovial localizada dentro da articulação, origem da AR.

2 – Quais são os sintomas da doença?

Geralmente, os primeiros sintomas da doença são fadiga inexplicável, dor e inchaço nas articulações, além de rigidez após períodos de inatividade, principalmente pela manhã.  Esses sintomas aparecem usualmente acompanhados de desconforto e até mesmo incapacidade para realizar movimentos. Alguns pacientes podem apresentar pequenas nodulações embaixo da pele, principalmente próximo aos cotovelos. São os chamados nódulos reumatóides.  

3 – Quais as articulações mais atingidas pela artrite?

As articulações das mãos, punhos, e pés são geralmente as mais comprometidas pela doença. A inflamação é geralmente simétrica, ou seja, envolve a articulação do lado direito e esquerdo. Como a doença é sistêmica, também podem surgir sinais e sintomas em outros órgãos como olhos, coração e pulmões.

 4 – Como é feito o diagnóstico?

Para fazer o diagnóstico de artrite reumatóide é necessário analisar a história clínica do paciente, juntamente com o exame físico, provas laboratoriais e radiografias das áreas acometidas. A presença e o tempo de rigidez articular, especialmente quando o paciente acorda, são importantes para o diagnóstico. No exame físico, o médico vai procurar por sinais como inchaço, dor, calor e limitação dos movimentos das articulações. Os exames de sangue auxiliam na avaliação do processo inflamatório através de exames como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e da proteína C reativa (PCR), que podem também evidenciar a presença de auto-anticorpos como o fator reumatóide e o anti-CCP. Por fim, as radiografias detectam as

alterações no espaço articular e no osso, decorrentes do processo inflamatório crônico. Embora a radiografia simples possa se mostrar normal no início da doença, outros métodos de imagem como o ultrassom e a ressonância magnética podem detectar alterações precocemente no curso da atividade inflamatória da AR.  

5 – Qualquer pessoa pode desenvolver a doença?

A artrite reumatóide não é hereditária, mas estudos recentes mostram que alguns genes que regulam o sistema imunológico podem estar relacionados a maior suscetibilidade ao desenvolvimento da doença. Acredita-se que fatores como infecções, variação dos níveis de alguns hormônios, alterações ambientais e até o hábito de fumar, possam provocar a ativação desses genes, mas essas hipóteses ainda estão em estudo. Apesar da artrite reumatóide afetar principalmente mulheres com idade entre 30 e 50 anos pode, esta também ter início na infância (artrite idiopática juvenil) e em idades mais avançadas.   

6 - Há alguma maneira de prevenção?

A artrite reumatóide não pode ser prevenida, mas descobrir o problema precocemente e tratar a doença de forma adequada, contribuem de forma importante para evitar as deformidades.  Pacientes com dor persistente nas juntas e rigidez articular devem sempre procurar um reumatologista.   

7 – A artrite reumatóide tem cura? Como é o tratamento?

Apesar da artrite reumatóide não ter cura, a eficiência das novas terapias têm cooperado para um melhor controle da doença. Na última década, medicamentos biológicos (feitos a partir de biotecnologia) trouxeram uma nova abordagem terapêutica para aqueles pacientes que não respondem ao tratamento padrão, que é realizado com antiinflamatórios não hormonais, glicocorticóides em baixas doses e principalmente com o metotrexato (MTX).  Os primeiros biológicos lançados no mercado foram os anti-TNFs (infliximabe, etanercepte e adalimumabe), que são medicamentos que inativam o fator de necrose tumoral – importante citocina envolvida no processo inflamatório. Outros biológicos, lançados mais recentemente para o tratamento da artrite reumatóide são o rituximabe (conhecido comercialmente como Mabthera®) e o abatacepte. O MabThera® (rituximabe) tem ação específica nos linfócitos B, células do sistema imunológico que também participam da inflamação que caracteriza a AR. O abatacepte bloqueia uma etapa do sistema imune conhecida como co-estimulação. Novos medicamentos biológicos estão em fase de aprovação pelas autoridades regulatórias, como o tocilizumab, do laboratório Roche, que será uma nova opção no tratamento dos pacientes com AR possivelmente a partir de 2009. 

8 – Artrite Reumatóide, artrose e gota são a mesma coisa?

Não. Embora também sejam doenças que afetam as articulações, têm quadros clínicos diferentes, e portanto, são tratadas também de forma diferente. A artrose é uma doença crônica degenerativa que afeta a cartilagem, gerando dor e limitação dos movimentos. É a mais comum das doenças reumáticas e estima-se que cerca de 15% da população mundial seja afetada pelo problema. Pode ser causada por vários fatores, entre eles traumas, fraturas, excesso de peso, sedentarismo ou desarranjos da própria articulação. A gota é caracterizada pelo depósito de ácido úrico nas articulações, o que causa episódios agudos de artrite. A doença provoca dor intensa, e na maioria dos casos, manifesta-se inicialmente com artrite do halux (dedão do pé).

Crédito:Cris Padilha

Autor:Larissa Saram

Fonte:Universo da Mulher