Rio de Janeiro, 29 de Março de 2024

Guerra dos Sexos

Contou-me uma professora que algumas pinturas rupestres em cavernas, especialmente na França, sugerem a idéia de que houve uma época distante em que as mulheres lideraram os grupos sociais existentes. O destaque para tais pinturas são os contornos do seio. Outros achados, como esculturas rudimentares, também apresentam os sinais da feminilidade, cujo relevo na pedra diz respeito à mesma região do corpo.
 
Outro fator importante considerado nesta análise foi o fato de que havia uma aura de mistério neste tipo de convivência, pois quando algum destes antepassados se feria, o restante do grupo entendia que a sua sorte estava selada e nada poderia deter a triste sina registrada pelo sangue exposto, elemento que aterroriza até nos dias atuais. No entanto, a mulher daquele período também menstruava, e como tal, expelia sangue.
 
 
Todavia, além de não morrer por este motivo, ainda gerava o bebê e o trazia ao mundo. Criou-se uma reverência ao gênero feminino, um certo endeusamento por estas razões suficientemente boas na ocasião. Com o tempo, as sociedades se modificaram e elegeram o homem como líder.

Pois bem, voltemos ao século vinte e um, no qual, esbarraremos em alguns pontos dignos de reflexão, ainda que o movimento da mulher e suas conquistas em prol dos direitos e da justiça tenha atingido vitórias significativas. Não obstante ao êxito, existem acontecimentos que denotam atraso e fazem reduzir a marcha da evolução humana. Refiro-me a evidente diferenciação que é feita em relação à mulher, a exemplo das dificuldades que ela encontra, tanto acerca do salário (menor em comparação ao homem de mesmo nível profissional) quanto a sua ascensão (limitada) a cargos de maior relevância dentro de muitas organizações. Observemos a vida prática.

Em recente matéria do Jornal O Estado de São Paulo, chamou a atenção o título: Dois milhões de mulheres contra o Wal-Mart, relatando sobre o maior processo trabalhista relacionado à discriminação sexual já realizado nos Estados Unidos. As estatísticas revelaram que as mulheres levam 4,38 anos para serem promovidas a gerente-assistente enquanto para os homens esse tempo é de 2,86 anos. E ainda, que as mulheres gerentes ganham um salário médio de US$ 89.280 ao ano, enquanto que os homens na mesma posição ganham US$ 105.682 por ano. Uau! Eis uma parada dura de se enfrentar.

Porém, não é diferente no Brasil, e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE indicam claramente a injustiça reinante: ...as mulheres são maioria nos grupos correspondentes ao último ano do ensino médio, curso superior e na pós-graduação. Ou seja, nos de maior escolaridade. ...a média de anos de estudos das mulheres é maior que a dos homens: 7 e 6,8 anos, respectivamente. Entretanto, ...mulheres com 11 anos ou mais de estudo, por exemplo, recebem 58,6% do rendimento dos homens com essa mesma escolaridade. Há algo de errado com a nossa sociedade.

A guerra dos sexos possui dois lados: a parte desfavorável, pela desigualdade de oportunidade e de compensação financeira, pois muitas mães são a referência dentro de casa e a sua renda determina boa parte dos recursos necessários.
 
 
E, a parte favorável, capaz de incomodar muitas mulheres, provocando-as a lutar com garra, cada vez mais, a fim de superar a injustiça estabelecida no atual sistema. Portanto, é inevitável, mais cedo ou mais tarde, que ocorra a modificação dos indicadores salariais, da evolução de carreira, em decorrência da consciência a respeito do potencial e das capacidades presentes nas pessoas, ainda que elas sejam diferentes. A mentalidade atrasada de muitos gestores será subjugada pela competência de quem desenvolve talento e traz resultado.

Quem sabe, esta triste parte da história fique apenas registrada nas cavernas da ignorância, que aos poucos recebe a luz da sabedoria e faz levantar o véu da escuridão, permitindo um convívio de maior proximidade.
 
 
 

Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo e diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas. É professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School.
 
 
 

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Armando Correa de Siqueira Neto

Fonte:Universo da Mulher