Rio de Janeiro, 10 de Maio de 2024

'Neda' vira a heroína dos jovens de todo Mundo

A onda de manifestações dos jovens militantes da oposição iraniana ganhou um rosto, tragicamente retratado num vídeo que se espalhou com rapidez espantosa por sites como Twitter e Facebook no fim de semana.
 
As imagens mostram uma jovem caindo de costas numa rua de Teerã.
 
Na sequência, sua face começa a ser coberta por sangue. Ao redor, manifestantes se desesperam.
 
A garota, cuja identidade é desconhecida, morreu com um tiro na cabeça.
 
Ninguém sabe ao certo quem ela era, mas seu chocante fim, flagrado por uma câmera amadora, pode mudar os rumos dos protestos no Irã (no vídeo a seguir, a cena da morte; vale lembrar que as imagens são muito fortes).

Na internet, a jovem já é chamada de "Neda", o que significa "a voz" ou "o chamado" no idioma farsi.
 
Além do flagra de sua morte, os vídeos que se espalham pela internet prestam tributo a ela, com músicas e mensagens em sua memória.
 
De acordo com alguns especialistas em história iraniana, o caso pode ser marcante porque abre caminho para novos protestos organizados.
 
Isso porque é costume no país marcar os dias de luto pela morte de seus heróis e mártires.
 
Muçulmanos xiitas costumam celebrar a memória dos mortos no terceiro, sétimo e quadragésimo dia depois do óbito.
 
Já existe a expectativa de que, no caso de "Neda", essas datas serão marcadas por grandes manifestações em Teerã.
 
 
Na revolução de 1979, o ciclo de manifestações seguiu justamente essa sequência.
 
Depois de duas mortes nos primeiros protestos de rua contra o governo do xá, novos protestos - e novos confrontos - ocorreram sempre que as mortes faziam 3, 7 ou 40 dias.
 
Novos choques provocavam mais mortes, que aumentavam o número de protestos e tornavam a situtação insustentável para o governo.
 
Da mesma forma, na atual crise iraniana, a maior manifestação até agora ocorreu para marcar os três dias desde as mortes dos primeiros simpatizantes do oposicionista Mir Hossein Mousavi.
 
No luto dos xiitas, geralmente as maiores e mais importantes celebrações ocorrem só no quadragésimo dia.
 
Outro aspecto que pode ser marcante nos próximos dias e semanas é o tratamento de mártir concedido a "Neda" pelos jovens manifestantes iranianos.
 
Na tradição xiita, o mártir é aquele que prefere morrer combatendo as injustiças do que viver subjugado.
 
Na revolução de 1979, os líderes do movimento que tentava derrubar o xá usaram várias vezes o fascínio dos iranianos pelo conceito de martírio - exploravam a morte de jovens manifestantes nos combates de rua para atrair as atenções dos outros e motivá-los a participar de novos protestos.
 
Analistas políticos acham que esse mesmo tipo de comportamento pode se repetir na atual onda de manifestações, mas agora contra os aiatolás.
 
 
 
 
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Redação

Fonte:Veja