Uma delas é a modelo Afef Jnifen, 38, uma das celebridades mais fotografadas da Itália. Filha de um diplomata tunisiano, Jnifen nasceu na Líbia e estudou na França. As 20 anos, já havia desfilado para a Maison Chanel, Giorgio Armani e Jean Paul Gautier. A fama lhe rendeu vultosos contratos para apresentar programas na TV italiana. Freqüentando as melhores rodas de Milão e Roma, ela é um exemplo de mulher moderna e bem-sucedida. Fala quatro idiomas e ganha muito dinheiro. Como não bastasse, casou-se ano passado com o solteirão mais cobiçado do país: o arquimilionário Marco Tronchetti, presidente do grupo Pirelli.
Se Jnifen virou a sensação do jet-set italiano, a rainha Rania tem status de pop star na Jodânia. Mulher do rei Abdullah, ela é a primeira-dama mais clicada do mundo árabe e figurinha fácil nas páginas de revistas européias. Nascida no Kuwait, há 32 anos, filha de pais palestinos, Rania ganhou fama por sua paixão por jóias e vestidos caros. Elegante, não esconde de ninguém que se sente mais à vontade batendo pernas nos boulevards parisienses que debaixo do sol escaldante do Deserto de Negev. Os tradicionais líderes religiosos não economizam farpas, alardeando à população que a rainha-patricinha passeia pela Europa enquanto Israel bombardeia a casa de seus pais na Cisjordânia. Sem dar a menor bola, a maioria adora incondicionalmente o glamour de Rania, que corajosamente puxa a fila do movimento feminista na Jordânia.
Ela está envolvida em várias campanhas pela expansão dos direitos da mulher em países árabes - mesmo a contra-gosto dos religiosos. Graças a uma campanha capitaneada por ela, bater em mulher virou crime na Jordânia. Durante as visitas oficiais do rei Abdullah a outros líderes árabes tradicionais, Rania causa saia-justa diplomática ao insistir em se sentar ao lado do marido. Em seu país, ela vive como uma mulher ocidental, longe das regalias de rainha: dispensa motoristas, é fã de música americana e é comum vê-la levando os três filhos ao Hard Rock Café da capital Amã.
É verdade que a vida de Rania não pode ser tomada como padrão. Ser mulher no mundo árabe não é coisa fácil. Mais da metade delas não sabe ler nem escrever. Se no Kuwait elas não podem votar, na Arábia Saudita são proibidas de dirigir e só há sete meses ganharam o direito de ter uma carteira de identidade. Ali pertinho, as egípcias são proibidas de viajar para fora do país sem a autorização dos maridos. Segundo as Nações Unidas, no mundo árabe menos de 4% das mulheres ocupam cargos públicos - número três vezes menor do que no Ocidente.
No entanto, nem toda repressão de muçulmanos intransigentes foi capaz de deter a ascensão meteórica das 4 Cats, um quarteto de garotas libanesas formado em 1997 à imagem e semelhança das Spice Girls. Quem teve a idéia de reunir quatro mulherões para aproveitar o sucesso das inglesinhas foi o empresário Gassan Rahbani, que selecionou para a função três modelos e a miss Líbano Dalida Shammaai. Bem mais comportadas que as inglesas, as quatro se vestem da maneira ocidental, mas com algumas restrições: o figurino permite no máximo uma calça jeans tradicional e raramente as garotas mostram o umbigo para os fãs. Como as Spice Girls, elas são péssimas cantoras e dançam pior ainda. O golpe de mestre foi reunir quatro bonitonas e transformar canções árabes tradicionais em baladas pop. As 4 Cats conquistaram uma legião de adoradores em um mundo carente de artistas. Tornaram-se tão populares que seus álbuns ultrapassam sempre a casa de um milhão de cópias vendidas.
Ainda que devagar, os homens árabes - até mesmo os mais radicas - vão dando o braço a torcer. Na Líbia, o truculento coronel Muamar Kadafi, que comanda o país com mão pesada, tem uma equipe de guarda-costas toda composta por mulheres. No Líbano e no Qatar, grupos feministas estão a um passo de aprovar leis regulamentando o divórcio e o direito à herança. Há algum tempo, a poligamia já é crime na Tunísia, vizinha do mesmo Marrocos onde moravam Tio Ali e Zoraide. As marroquinas, aliás, têm direito ao divórcio caso o marido escolha uma segunda esposa - mesmo que na imaginaçõ de Gloria Perez elas tenham de sofrer até o último capítulo. A autora é conhecida por sua imaginação fértil. Basta lembrar que ela escreveu um folhetim no qual um cientista brasileiro produzia um clone humano. Pior: conseguiu convencer meio mundo que chegar a Fez, no Marrocos, era como pegar uma ponte aérea para São Paulo. Porém, antes de arrastar Gloria Perez pela Medina, é bom saber que pelo menos Jade não foi mais um delírio seu.
Cristiano Dias
AFP |
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Crédito:Luiz Affonso
Autor:Cristiano Dias
Fonte:Jornal do Brasil