Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2024

A bela cinqüentona

Bruna Patrícia Maria Teresa Romilda Lombardi – assim está escrito na certidão de nascimento. O nome é de princesa, mas ela veio ao mundo há 50 anos – no dia 1º de agosto – filha de plebeus: o fotógrafo de cinema Ugo Lombardi e a atriz austríaca Yvonne Sandner.

Na hora do casamento, também, nada de sangue azul. Seu marido, desde 1980, é o colega de profissão Carlos Alberto Ricelli. Da união dos dois, um filho, hoje com 19 anos, estudante de cinema, chamado Kim.

Para não dizer que Bruna passou ao largo da realeza, registre-se que ela foi princesinha num comercial de TV, aos 14 anos, época em que ganhava prêmios de redação no colégio, um indicativo de que iria “passear” pela literatura – são cinco livros publicados, o primeiro com prefácio de Chico Buarque.

Sua vida profissional, entretanto, se iniciou com a carreira de modelo mesmo – aos 18 anos, seus olhos verdes já tinham embelezado as capas de todas as revistas brasileiras e algumas internacionais.

Na televisão, ela começou como atriz global, aos 24 anos. Heroína, novela após novela, conquistou o coração do Brasil e surpreendeu público e crítica como Diadorim em Grande Sertão (1986), ao tentar aparecer “feia”: continuava bela.

No auge do sucesso, em 1990, resolveu sair de cena e foi fazer um curso de cinema em Los Angeles. Acabou ficando dez anos por lá e descobriu outras possibilidades profissionais. Uma delas, apresentar programas de entrevistas.

 

Um casamento de 22 anos. Existe uma fórmula para a felicidade conjugal?

 

Sempre achei que seria sozinha. No entanto, encontrei o Ri e a gente continua apaixonado. Essa é uma das minhas grandes surpresas. Temos os mesmos ideais, as mesmas buscas. A gente fez tudo junto: cresceu, compreendeu, amadureceu...

Você vive em três cidades – Rio de Janeiro, São Paulo e Los Angeles. É por opção essa vida cigana?

Aconteceu aos poucos. É resultado da minha curiosidade. O meu jeito é esse: uso muito movimento, é um sistema para descobrir coisas novas.

Qual avaliação você faz do seu trabalho?

Eu sou múltipla, mas acho que todo mundo está assim, por conta das mudanças no mundo – a comunicação é instantânea, são muitos os recursos disponíveis. Por isso, hoje, sou atriz, apresentadora, empresária, produtora, esposa, mãe e me preocupo com qualidade de vida, equilíbrio interior.

Você é tão boa empresária como atriz?

Meu raciocínio é abrangente. Apesar da dificuldade com os números, consigo organizar novos métodos e inventar jeitos para realizar. Me considero “pau para toda obra”, faço o que for preciso e tenho muito prazer nisso.

E a escritora Bruna, como é?

Escrever é pessoal e intransferível, pode ser peça, filme, livro, ter grande ou pequeno alcance. Acho que escrever é uma grande troca: exige generosidade de quem faz e de quem lê, forma uma grande maçonaria universal que faz crescer, dá idéias, ilumina, levanta dúvidas e questionamentos, desperta emoções.

Como acontece a escolha de seus projetos?

Pela paixão. Se não me identifico, se sinto que não vou dar nada maior para o personagem, eu recuso. É como escolher amigo, namorado – ou é ou não é. Nunca escolhi por dinheiro ou por sucesso – embora isso seja importante, claro.

Planos para o futuro?

O Eduardo Tolentino, do Grupo Tapa, me ofereceu um papel numa peça de teatro. Também estou trabalhando num filme sobre o qual ainda não posso falar. Para mim, é muito difícil planejar a vida profissional.

Completar 50 anos de idade mexeu com você?

Nada para mim é de fora para dentro, nunca deixei a pressão externa me atingir. Eu sou indomável, não sou fácil de ser levada. O meu maior luxo é fazer o que eu quero. Qualidade de vida é uma coisa de dentro para fora, a gente sempre quer estar melhor.

Naturalista?

Sempre fui uma vegetariana que come peixe e frango. Me trato com homeopatia sem radicalismos. Há uma filosofia para isso: como a vida é muito atribulada, preciso de calma e organização interna. Reenergizo no jardim, na praia. Eu ouço o meu corpo, sempre me pergunto o que quero e sigo esse rumo.

E política, eleições, você se interessa?

Nós passamos pelo dragão da inflação – a nossa vida era absurda e a gente não se dava conta. Para mim, os dois tópicos principais nesta eleição são saúde e educação. Detesto a idéia de progresso sem isso. É como ter um Mercedes sem saber tomar banho ou ler. O resto, a gente constrói.

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Lúcia Freitas

Fonte:Estadão