Rio de Janeiro, 05 de Maio de 2024

Boa de marketing

Muita originalidade, sorriso nos lábios e boa conversa são as armas usadas por ex-empregada doméstica para ganhar a vida nas praias cariocas
 

"Trato com a mesma atenção quem compra uma água por R$ 1 e quem gasta 15 vezes mais. Talvez esteja aí o segredo do sucesso"
DILMA, da Barraca da Dona Dilma: aluguel de bronzeador e de óculos escuros atrai a clientela.

Sete horas da manhã, praia de Ipanema. O sol começa a ficar mais forte e surgem os primeiros pedestres para a caminhada matinal. Seguindo este ritmo, Dilma Ana Abdia chega à praia para mais um dia de trabalho. Dona da Barraca da Dona Dilma, no Posto 9, a empreendedora vende água, chás e biscoitos, além de alugar guarda-sol e cadeiras. Mas ela é mais conhecida por improvisar serviços como o aluguel de bronzeador a R$ 0,25 por "passada" no corpo e a locação de óculos de sol, a R$ 0,50 por dia.

Nascida em Maricá (RJ), a comerciante atende cerca de 150 pessoas por dia nos fins de semana, chegando a formalizar 600 pedidos diários no alto verão e feriados prolongados. Para identificar novas oportunidades e oferecer serviços originais, Dilma costuma jogar muita conversa fora com os frequeses e, como faz há 18 anos, percorre a praia com sua caixa de isopor para vender e tentar, entre um sorriso e outro, descobrir o que sua clientela está procurando.
Saber escutar e valorizar cada centavo adquirido foi um ensinamento adquirido ainda na juventude.

Antes de ter um negócio próprio, Dilma trabalhava como doméstica para uma família judia. Aos 17 anos, ela se dividia entre a limpeza da joalheria dos patrões e a rotina da casa. Da patroa, ouvia com freqüência a afirmação de que a freguesia se conquista com um sorriso no rosto e muita atenção. E essa não foi a única lição aprendida. A comerciante judia ensinou-lhe um método infalível para garantir uma velhice tranqüila. Independentemente do valor, o salário deveria ser dividido em três partes: a primeira, para cobrir as despesas pessoais; a segunda, para o lazer e a terça parte restante para o futuro. Essa última, Dilma convertia em moeda americana. "No fim do mês, lá estava eu na casa de câmbio em busca das verdinhas ", lembra.

Ao longo de 12 anos de trabalho, acumulou US$ 22 mil com os quais comprou um apartamento no centro do Rio de Janeiro, uma casa, um conjugado e dois carros. Quando as dificuldades chegaram, ela estava resguardada. Em 1983, as empresas da família fecharam e a empregada doméstica, para surpresa de muitos, ficou apenas dois dias desempregada. "Decidi ter meu próprio negócio. Gastei cerca de R$ 400 na compra de um isopor e algumas mercadorias para iniciar a vida de ambulante na praia", conta Dilma.

Com um faturamento que varia entre 2 mil e 4 mil reais, a empresária não investe mais em dólares - "a diferença de câmbio está muito grande" - mas continua guardando a terça parte do que ganha para o futuro. E, se depender dessa carioca de 48 anos, torcedora do Flamengo e da Imperatriz Leopoldinense, o futuro será tranqüilo. "Não existe segredo. Basta ter um sonho, trabalhar e colocar em prática", ensina Dilma com simplicidade.

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Redação

Fonte:PEGN