Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2024

A Rainha das Maratonas Aquáticas

Poliana Okimoto vence o medo do mar e vira a rainha das maratonas aquáticas
Brasileira de 26 anos, que há quatro anos temia tubarões e baleias, faz história ao conquistar, nos Emirados Árabes, o circuito da Copa do Mundo

Aos sete anos, Poliana Okimoto só queria ser como o irmão mais velho.
 
Ficava de olho comprido nas raias ao lado, onde André treinava na equipe principal da Academia Munhoz, em São Paulo. Ia para casa certa de que era tão ruim como nadadora que jamais seria chamada.
 
O tempo provou o contrário. Ela ganhou um lugar na seleção brasileira, medalhas em Sul-Americanos, bateu recordes, mas faltava fôlego para continuar.
 
A esperança de sonhar com pódios em Mundiais e Olimpíadas ressurgiu no mar. No ambiente que mais temia desde a infância.
 
E foi lá, vencendo a resistência inicial ao novo desafio e o medo dos bichos, que ela ganhou status de estrela, confirmado com a conquista do inédito título do circuito da Copa do Mundo, nesta quarta-feira, no mar agitado de Sharjah, nos Emirados Árabes.
 
Poliana só precisava cair na água e completar a prova no tempo limite, meia hora depois da vencedora. Fez muito mais que isso. Mesmo no mar mexido, ganhou a prova, embolsou mais um ouro e fechou o circuito da melhor forma possível.
 
- Hoje o mar estava muito agitado, mas eu estou muito feliz. Foi uma superação. Eu nem precisava ganhar a prova, mas queria muito vencer e me superei mais uma vez - afirmou Poliana, logo após a prova, em entrevista ao SporTV.
 
Poliana conquistou um bronze histórico no Mundial de Esportes Aquáticos, em Roma Em 2005, quando foi convencida pelo técnico e futuro marido, Ricardo Cintra, a participar da Travessia dos Fortes, no Rio, Poliana torceu o nariz.
 
Não sabia o que esperar das maratonas aquáticas.
 
Sabia, sim, que teria de treinar muito mais do que antes para encarar provas de 10km. Não se arrepende. Já perdeu as contas de quantas braçadas deu ao longo de todo esse tempo para conquistar duas pratas nos 5km e 10km no Mundial de maratonas de Melbourne, mesmo nadando com o tímpano perfurado. Para levar o bronze no Mundial de  Esportes Aquáticos de Roma e o título do circuito vencendo nove das 12 etapas.
 
-  Ricardo sempre me falou que, quanto maior a distância, melhor eu nadava. Por mim eu não ia. Mas resolvi tentar e tudo acabou acontecendo muito rápido para mim. Minha mãe tinha medo de que algo acontecesse comigo e eu tinha muito medo de encontrar tubarão, baleia, peixes durante o percurso. Aí vi que a modalidade ia ser olímpica e acabei perdendo os medos depois do Pan do Rio, onde ganhei a prata. Agora já nadei até na companhia de um pinguim. Dá um frio danado - brinca Poliana, em entrevista concedida ao GLOBOESPORTE.COM antes da prova desta quarta-feira, nos Emirados.
 
E de água gelada ela entende bem. Sofreu com isso na Dinamarca e em Portugal. Enfrentou mar muito mexido em Nova York, muito quente na China e em Dubai, ventos fortes e frios, marola, água-viva, e foi muito, muito perseguida pelas adversárias.
 
- Eu já enfrentei de tudo neste circuito e isso é bom. Já tomei muita porrada também e sei que vou apanhar mais a partir de agora. Eu já começo a perceber que estou mais visada. Na hora da largada, todo mundo vai atrás de mim.
 
Mas não posso reclamar. Trabalhei muito para ser uma das melhores do mundo. Foi o que eu sempre quis. Fiquei muito surpresa quando vi minha foto no cartaz de divulgação da etapa em Dubai. Hoje o Brasil já chega com muito mais respeito nas competições, e os atletas e técnicos dos outros países ficam observando o que fazemos
 
O fôlego que faltava para dar continuidade à carreira na piscina agora sobra. Poliana está tão determinada e de olho nas rivais que as 2h de prova passam como se fossem 20 minutos. Já tem planos para, pelo menos, os próximos sete anos.
 
Quer porque quer ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Pretende tentar provas mais longas depois disso e não descarta a travessia do Canal da Mancha. Por ora, só pensa em descanso e em colher os frutos de uma temporada perfeita.
 
- Depois que o Rio foi escolhido sede, eu me animei ainda mais. Já pensou subir ao pódio dentro do meu país?
 
Mas agora estou precisando de férias. São muitas provas, muito tempo viajando, e os brasileiros acabam sofrendo mais por causa dos voos mais longos, do fuso, e porque chegamos aos lugares pouco tempo antes das provas.
 
Você fica esgotado. A Ana Marcela é um exemplo. Estava bem no circuito (era a vice-líder) e ficou doente. O corpo não aguenta. Mas estou feliz porque lutei muito para que a Confederação e o Pinheiros me dessem condições de fazer todo o circuito. Eu sabia que podia ficar entre as primeiras - contou a nadadora.
 
Conquista histórica
 
O título desta quarta-feira é o primeiro conquistado pelo Brasil em campeonatos femininos fora da categoria master. Nas maratonas aquáticas, os melhores resultados do país até agora tinham sido da própria Poliana em 2007 e de Ana Marcela em 2008 - as duas terminaram em terceiro lugar.
 
Poliana chegou a estar em 10º lugar na prova nos Emirados Árabes, mas reagiu no fim e venceu. A russa Larissa Ilchenko, campeã olímpica em Pequim, chegou em segundo, seguida pela alemã Angela Maurer.
 
No masculino, o brasileiro Allan do Carmo chegou em oitavo e também conseguiu um resultado inédito para o país, ficando em segundo lugar no circuito. Com isso, ele supera sua própria marca, do ano passado, quando ficou em quinto.
 
 
 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Daniele Rocha

Fonte:Universo da Mulher