Ela foi lançada em 1964 e teve sua primeira edição esgotada em apenas dez meses. Rapidamente tornou-se não apenas um objeto de desejo, mas um instrumento singular de apoio educacional. Nos anos setenta e até meados dos oitenta, foi o melhor presente que pais poderiam conferir a seus filhos, muitas vezes adquirida com dificuldade mediante pagamento parcelado. Estou falando da Enciclopédia Barsa.
Lembro-me daquela coleção com dezesseis livros de capas vermelhas e letras douradas que me auxiliava nas tarefas escolares e me abria as portas para um mundo surpreendente esperando para ser desvendado. O atlas geográfico suscitou-me a curiosidade por países, bandeiras, moedas e idiomas. E as pesquisas aos diversos verbetes estimulavam o prazer pela leitura e, por conseguinte, pela escrita, uma vez que os temas consultados tinham que ser relatados num caderno ou em atividade acadêmica para ser entregue.
Com o advento da internet as enciclopédias caíram em desuso. Hoje, um estudante não precisa mais folhear páginas a procura de uma informação. Basta acessar um site de busca para localizar o tema de seu interesse, muitas vezes com milhares de links relevantes. Depois, é copiar e colar o texto, imprimindo-o e dando por encerrada a missão.
Neste processo, há muitas perdas. O prazer pela leitura se dissipa. Jornais, revistas e livros são proporcionalmente veículos menos utilizados. E o hábito da escrita também se esvai. Papel e caneta são substituídos por processadores de texto. A emoção e a personalidade presentes na caligrafia dão lugar à frieza dos bits e bytes.
Mas a facilidade de acesso à informação também trouxe consigo um efeito colateral: os jovens estão ficando mais indolentes e apáticos. Quase diariamente recebo mensagens de universitários solicitando artigos, ensaios, gráficos ou qualquer tipo de material que possa ajudá-los em um trabalho acadêmico ou na elaboração de sua monografia. Há ocasiões em que estes pedidos chegam de forma serena e consciente, deixando claro que minha eventual contribuição será acessória, complementar à atividade que desenvolvem.
Todavia, há circunstâncias nas quais os pedidos que me visitam vão desde a definição de uma palavra que pode ser encontrada nos dicionários (estes, também em desuso) até a mera transcrição, na íntegra, de uma tarefa proposta, incluindo data para entrega e regras para apresentação. Assim, o estudante encaminha as questões tal como lhe foram formuladas, esperando respostas prontas que possam eximi-lo do trabalho de pesquisar, ler, compilar, enfim, estudar.
Esta verdadeira febre assola também as chamadas comunidades virtuais. Quem participa de grupos ou fóruns temáticos de discussão, sabem o que estou dizendo. E, neste caso, a conduta se estende também a profissionais à caça de planilhas, testes de avaliação, dinâmicas de grupos, entre outros.
Informação e conhecimento devem ser compartilhados. Por isso, jamais deixo sem resposta um leitor, qualquer seja sua demanda. Mas vejo com preocupação este comodismo, às vezes travestido de oportunismo, porque me faz lembrar Confúcio que dizia: “A preguiça anda tão devagar que a pobreza facilmente a alcança”.
* Tom Coelho, com formação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização em Marketing pela Madia Marketing School e em Qualidade de Vida no Trabalho pela USP, é consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br.
Crédito:Tom Coelho
Autor:Tom Coelho
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