Rio de Janeiro, 26 de Abril de 2024

Caminhei

Caminhei muito.
Encontrei pessoas "sim" e pessoas "não". 
Gente sorriso e gente sisuda.
Poucas meio termo.
Todas chamaram a minha atenção e registraram sua passagem  conforme suas características.
 
Aprendi o bastante, mas não o suficiente, com cada uma delas.
 
Fui avaliando os detalhes e catalogando as diferentes nuanças,  num exercício de vida, que não pude evitar.
 
De uns tempos para cá, tenho refletido sobre um aspecto que  me escapou nos pormenores...
É o que se refere ao amor.
 
Existem pessoas que amam e outras que se deixam amar. Parece trocadilho ou, então, inversão de idéias.
Asseguro que não se trata de antítese ou metáfora. É a realidade constante, e pouco percebida, das relações afetivas do ser humano.
 
Comecei a montar o quebra-cabeças quando revi pedaços da minha própria trajetória de relacionamentos.
 
Fiquei pasma da quantidade de peças que se encaixaram nessa constatação, de que uns amam e outros se deixam amar.
 
Nossa!
 
Os que amam se destacam dos que se deixam amar por várias particularidades.
 
Tentar enumerá-las é enveredar por um misterioso universo e, como não tenho o mapa da mina, fica complicado demais.
 
Mas sempre é oportuno assinalar alguns pormenores para esclarecer aos que, também, chegaram a essa conclusão.
 
Quem ama acende a luz e mostra o rosto; quem se deixa amar fica na penumbra e disfarça a fisionomia.
 
Quem ama abre os braços e abre a guarda; quem se deixa amar esquiva-se e esconde-se detrás de armaduras. Quem ama não foge à luta e encara o perigo; quem se deixa amar nunca entra em briga e nem emite opiniões.
Quem ama fala, canta, assovia, gesticula; quem se deixa amar faz silêncio entre um murmúrio e outro e se move como sombra.
 
Quem ama sabe; quem se deixa amar desconhece. Quem ama adivinha; quem se deixa amar omite.
 
Quem ama faz "das tripas, coração" e desempenha o papel com o melhor de si; quem se deixa amar assiste da coxia e, raras vezes, aplaude.
 
Entre amar e se deixar amar está a incompreensão das relações amorosas.
 
Um oferece e o outro recebe.
 
O equilíbrio, o prumo, o fiel da balança é raramente encontrado.
 
Relação de troca?
 
Pode ser! Mas é uma troca desleal e injusta.
 
O que se vê por aí é desencontro e mal-entendido.
 
De um lado aquele que ama e do outro o que se deixa amar e no meio um vazio de fazer medo.
 
Solidão a dois, sem dúvida.

 


E ... sempre aquele que ama paga o ônus da festa.
 
O que se deixou amar sai ileso e deita a cabeça no travesseiro para mais uma noite de descanso.
 
Afinal, amanhã encontrará alguém que o ame e, então, se deixará amar do alto da sua indiferença e pretensa imunidade...
 
Aquele que amou, continuará amando, independente do troco!
 
 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Universo da Mulher

Fonte:Maria Alice Estrella