Rio de Janeiro, 20 de Abril de 2024

Atire a Primeira Flor

                                 
Quando tudo for pedra, atire a primeira flor;
 
 
Quando tudo parecer caminhar errado,
seja você a tentar o primeiro passo certo;
 
Se tudo parecer escuro,
se nada puder ser visto,
acenda você a primeira luz,
traga para a treva, você primeiro,
a pequena lâmpada;
 
Quando todos estiverem chorando,
tente você o primeiro sorriso;
talvez não na forma de lábios sorridentes,
mas na de um coração que compreenda,
de braços que confortem;
 
Se a vida inteira for um imenso não,
não pare você na busca do primeiro sim,
ao qual tudo de positivo deverá seguir-se;
 
Quando ninguém souber coisa alguma,
e você souber um pouquinho,
seja o primeiro  a ensinar,
começando por aprender você mesmo,
corrigindo-se a si mesmo;
primeiro que pode ser o único e,
mais sério ainda, talvez o último;
 
Quando a terra estiver seca,
que sua mão seja a primeira a regá-la;
 
Quando a flor se sufocar na urze e no espinho,
que sua mão seja a primeira a separar o joio,
a arrancar a  praga, a afagar a pétala,
a acariciar a flor;
 
Se a porta estiver fechada,
de você venha a primeira chave;
Se o vento sopra frio,
que o calor de sua lareira seja a primeira
proteção e primeiro abrigo.
 
Se o pão for apenas massa e não estiver cozido,
seja você o primeiro forno
para transformá-lo em alimento.
 
Não atire a primeira pedra em quem erra.
De acusadores o mundo está cheio;
nem, por outro lado, aplauda o erro;
dentro em pouco, benção será derramada;
 
Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu;
sua atenção primeiro para aquele que foi  esquecido;
seja você o primeiro para aquele
que não tem ninguém;
 
Quando tudo for espinho,
atire a primeira flor;
seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta,
compreendendo que o perdão regenera,
que a compreensão edifica,
que o auxílio possibilita,
que o entendimento reconstrói.
 
Atire você,
quando tudo for pedra,
a primeira e decisiva flor.
 
 
 
 

Crédito:

Autor:Glácia Daibert

Fonte:Universo da Mulher