Rio de Janeiro, 02 de Maio de 2024

Células-tronco

O Ministro da Saúde, Humberto Costa, anuncia nesta quarta-feira (2), durante solenidade no Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (INCL), a partir das 16h, no Rio de Janeiro, o início do maior estudo com células-tronco adultas para tratamento de doenças do coração já realizado no mundo - chamado Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias. A pesquisa envolverá grupos de portadores de quatro diferentes doenças: infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica e será patrocinada pelo Ministério da Saúde.
          
 
O projeto que o Brasil desenvolve é único no mundo, pela quantidade de casos avaliados e comparados (1.200 pacientes participarão do estudo) e pelo número de instituições envolvidas (em torno de 40, de todo o território nacional). O objetivo do trabalho é comprovar os resultados já obtidos em pesquisas isoladas e verificar a viabilidade da substituição dos tratamentos cardíacos tradicionais (inclusive o transplante de coração) pela terapia com células-tronco.
         
 
As pesquisas na área da terapia celular em cardiologia têm sido aplicadas em um número muito pequeno de pacientes e, em geral, por instituições isoladas. O estudo para a solução da doença de Chagas desenvolvida no País é inédito em todo o mundo. Todo esse trabalho consolida a posição de destaque que o Brasil conquistou na área.
 
 
Os protocolos, já aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), devem ser concluídos em até três anos. O custo total do projeto está estimado em R$ 13 milhões (custeados pelo Ministério da Saúde). Os 1.200 pacientes avaliados serão divididos em grupos, com 300 cada, de acordo com o tipo de doença. Em cada um dos grupos, a metade receberá o tratamento tradicional e a outra parcela será submetida à terapia celular. Neste caso, cada paciente receberá células-tronco de sua própria medula óssea. A outra metade receberá o tratamento tradicional, com os melhores recursos farmacológicos ou cirúrgicos disponíveis.
           
 
Comprovada a eficácia da terapia celular, o Ministério da Saúde terá dado um passo importante para a implementação do tratamento em todo o Sistema Único de Saúde (SUS), aumentando as chances de cura para milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, a terapia celular proporcionará significativa economia de recursos financeiros para o SUS. Considerando consultas, internações, cirurgias e transplantes cardíacos, o sistema gastou, em 2003, cerca de R$ 500 milhões.
           
 
No Brasil, 4 milhões de pessoas sofrem de insuficiência cardíaca grave. Se ficar comprovado que as células-tronco podem melhorar as condições desses pacientes na mesma proporção que os estudos preliminares têm indicado, estima-se que 200 mil vidas poderão ser salvas em três anos e reduzido o custo do tratamento em aproximadamente R$ 37 milhões por mês. Isso mostra que o investimento que se faz em ciência, tecnologia e inovação em Saúde tem, além do impacto social, um significativo retorno econômico.
 
 
O Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias será dirigido por uma comissão coordenadora formada de pesquisadores participantes do estudo e terá os seguintes componentes:
 
1) um centro coordenador - o Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (INCL), que será responsável pela seleção dos pacientes, monitoramento, assessoria técnica, criação e manutenção da base de dados, além da seleção e acompanhamento dos avaliadores externos no processo de avaliação dos resultados;
 
2) uma comissão coordenadora;
 
3) quatro centros-âncora - o INCL, o Instituto do Coração/ USP (SP), o Instituto de Ciências Biomédicas/ UFRJ em colaboração com o Hospital Pró-cardíaco (RJ) e o Hospital Santa Isabel em colaboração com o Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz, da FIOCRUZ (BA); e
 
4) centros colaboradores vinculados aos centros-âncora. Cada centro-âncora será responsável pela condução do estudo em pacientes de uma doença cardíaca.
 
 
Outros estudos -
 
Ainda em 2005, o Ministério da Saúde, em parceria com o Fundo Setorial de Biotecnologia (CT-Biotec) do Ministério da Ciência e Tecnologia apoiará novos estudos com células-tronco retiradas de cordão umbilical e também de pacientes adultos, para serem usadas no tratamento de lesões de medula espinhal; diabetes; doenças neurodegenerativas (como mal de Alzheimer e esclerose lateral amiotrófica); regeneração de tecido ósseo, dentes e pele; doenças auto-imunes (como lúpus); doenças genéticas, entre outros.
           
 
Esse projeto, que vai envolver recursos da ordem de R$ 5 milhões ( R$ 2,5 milhões do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e R$ 2,5 milhões do CT-Biotec do Ministério da Ciência e Tecnologia) avaliará, nessa primeira fase, os resultados em fase pré-clínica. Ou seja, não envolverá seres humanos, mas fará análises em animais e testes de laboratório. Se os resultados forem positivos, a iniciativa poderá prosseguir em 2006.
 
 
 Inaugurações -
 
 
Além de anunciar o início do estudo, o ministro Humberto Costa inaugura hoje em Laranjeiras o Laboratório Multidisciplinar de Terapia Celular. Primeiro do tipo no país, o laboratório será essencial para o Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias. Para a construção e equipamento do laboratório, foram aplicados recursos federais da ordem de R$ 530 mil.
 
O ministro inaugura também hoje (02/02/2005) as novas instalações do Centro Cirúrgico do INCL, que foi ampliado e recebeu modernos equipamentos. O número de salas cirúrgicas passou de dois para quatro (três para adultos e uma para crianças). As duas unidades resultam de um investimento federal de R$ 2,7 milhões. Com a reforma, a quantidade de cirurgias no Instituto pode chegar a 1.600, neste ano. No ano passado, foram cerca de 1.200.
           
 
As instalações inauguradas hoje contam ainda com salas de conforto para os profissionais, para as famílias e para as crianças, permitindo a prestação de um atendimento mais humanizado. Para a ampliação e equipamento do centro, foram aplicados recursos federais de R$ 2,2 milhões.
 
 
 
Perguntas e respostas
 
 
. O que são células-tronco e como elas podem ser usadas em tratamentos médicos?
 
A utilização de células-tronco na medicina representa a possibilidade de cura para grande número de doenças que atingem a população. Pesquisas demonstram que elas têm potencial ilimitado de auto-renovação e capacidade de originar linhagens celulares com diferentes funções. Por isso, podem recompor tecidos danificados. Os cientistas acreditam que células-tronco podem ajudar a tratar várias doenças como o mal de Parkinson, o câncer e problemas cardíacos sérios. Existem dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as retiradas de embriões. Células retiradas de tecidos maduros, como a medula óssea, são mais especializadas e dão origem a apenas alguns tecidos do corpo. Por outro lado, as retiradas de embriões têm maior versatilidade. As células-tronco que serão utilizadas no estudo promovido pelo Ministério da Saúde são retiradas de tecidos maduros do próprio paciente.
 
 
. Como é feito o transplante cardíaco de células-tronco a partir da medula óssea do próprio paciente (autólogo)?
 
Por punção, são retirados entre 50ml e 100ml da medula, da crista ilíaca (bacia) do paciente. Esse material passa por um processo de separação, em que são isoladas células mononucleares (em geral, entre 30 milhões e 600 milhões). Dessas, calcula-se que uma em cada 10 mil seja célula-tronco. Elas são introduzidas por cateter na região afetada. A quantidade é pequena. Mas, uma vez que as CT encontram um ambiente adequado, é o suficiente para recuperar vasos e tecidos atingidos por infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica - objetos do estudo. Com isso, as CT aumentam a capacidade de contração do coração, tornando o tecido muscular uma bomba mais eficiente, devolvendo a possibilidade de o paciente realizar tarefas cotidianas.
 
 
. Por que foram escolhidos esses quatro campos de pesquisa?
 
 
Porque eles cobrem as doenças mais freqüentes. Ficam de fora do estudo, praticamente, apenas as cardiopatias que decorrem de defeitos valvares. Essas quatro cardiopatias evoluem quase sempre para a insuficiência cardíaca (temos 4 milhões de pessoas hoje nessa condição, no Brasil) e acabam conduzindo o paciente para a fila de transplantes. Por outro lado, o arsenal de medicamentos não reverte o problema - apenas estabiliza o quadro.
 
 
. Quais os benefícios da terapia celular para a cura de cardiopatias?
 
 
Para o paciente, a maior vantagem é a recuperação da qualidade de vida e a diminuição do número de reinternações. O tempo de recuperação é curto - 72 horas no hospital depois do procedimento e de dois a três meses, para observação de resultados. Com o transplante autólogo de células-tronco, também são eliminados os riscos de rejeição. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), a maior vantagem é a queda drástica no valor do tratamento - reduzido em pelo menos dez vezes, quando comparado, por exemplo, ao custo de uma cirurgia de transplante. O SUS gastou, em 2003, R$ 500 milhões com consultas, internações, cirurgias e transplantes cardíacos. Se a pesquisa for bem-sucedida, será possível salvar 200 mil vidas em três anos e reduzir o custo do tratamento desses pacientes em aproximadamente R$ 37 milhões por mês.
 
 
. O processo é seguro? Se o tratamento se mostrar eficiente, em quanto tempo os usuários do SUS serão beneficados?
 
 
A primeira preocupação foi garantir a segurança do método. Até hoje, não houve qualquer relato de arritmia, rejeição, inflamação, aparecimento de tumores nos pacientes submetidos a esse tipo de terapia. Hoje, os cientistas estão preocupados em aferir a sua eficiência. Uma vez atestada, calcula-se que, pelo grande número de instituições públicas e privadas envolvidas na pesquisa, logo a técnica será disseminada por todo o País e estará acessível a todos que precisem dela.  O investimento de um hospital para implantar a técnica será bastante pequeno (em torno de R$ 50 mil), o que tornará o tratamento ainda mais acessível.

 

Instituições que participam do Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiologia
 
Cardiomiopatia dilatada
Centro Âncora
Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras
 
Centros Colaboradores
. Instituto do Coração de Pernambuco/Real Hospital Português de Beneficência (PE)
. Hospital do Coração e Pulmão de Messejana (CE)
. Hospital Santa Rita de Cássia (ES)
. Hospital das Clínicas da UFMG - (MG)
. Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ (RJ)
. Hospital Universitário Pedro Ernesto/ UERJ (RJ)
. Hospital  Universitário Antônio Pedro/ UFF (RJ). Hospital Pró-Cardíaco/Procep (RJ)
. Instituto do Coração - INCOR/USP(SP)
. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina - USP-RP (SP)
. Irmandade de Sta Casa de Misericórdia de Curitiba (PR)
. Hospital das Clínicas da UFPr  (PR)
. Hospital das Clínicas - PUC/RS (RS)
. Hospital das Clínicas - UFRGS (RS)
 
Cardiopatia chagásica
 
Centro Âncora
Hospital Santa Izabel
 
Centros Colaboradores
. Hospital Universitário Oswaldo Cruz (PE)
. Hospital de Messejana (CE)
. Serviço de Cardiologia da Universidade Federal de Goiás (GO)
. Hospital Anis Rassi em Goiânia (GO)
. Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
. Santa Casa de Misericórida de Belo Horizonte (MG)
. Instituto Nacional de cardiologia de Laranjeiras (RJ)
. Hospital  Universitário -  UFRJ (RJ)
. Faculdade de Medicina do Triãngulo Mineiro (MG)
. Incor/USP (SP)
. Serviço de Cardiologia da USP em Ribeirão Preto (SP)
. IMC de São José do Rio Preto (SP)
. PUC/Curitiba (PR)
            . Universidade Estadual de Londrina (PR)
 
Infarto agudo do miocárdio
 
Centro Âncora
Instituto de Ciências Biomédicas - UFRJ
 
Centros Colaboradores
            . Hospital Universitário Oswaldo Cruz - UPE (PE)
. Hospital de Messejana (CE)
. Hospital Santa Izabel (BA)
 . Santa casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG)
 . Hospital São Marcos (MG)
. Instituto do Coração - Fundação Zerbini - INCOR- DF
. Instituto Estadual de Cardiolotia Aloysio de Castro (RJ)
. Hospital Universitário Pedro Ernesto - UERJ (RJ)
. Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (RJ)
. Hospital Municipal Miguel Couto (RJ)
. Instituto Dante Pazzanese (SP)
. IMC - Instituto de Moléstias Cardiovasculares (SP)
. INCOR - Instituto do Coração Fac. Méd. da USP (SP)
  . Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP)
  . Hospital e Maternidade São Lucas de Ribeirão Preto (SP)
  . Hospital Cardiológico Constantini (PR)
  . Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná - FUEL (PR)
  . Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (RS)
  . Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS)
 
Doença isquêmica do coração
 
Centro Âncora
Instituto do Coração INCOR/USP
 
Centros Colaboradores
. Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (RS)
. Hospital Pró-Cardíaco (RJ)
. Instituto do Coração de Pernambuco / Real Hospital Português de Beneficência (PE)
  

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Agencia Saude

Fonte:Ministério da Saúde