Rio de Janeiro, 11 de Novembro de 2024

Como curar um coração partido? Por Rosana Braga

Como curar um coração partido? Por Rosana Braga
A dor de um amor que morre, seja lenta ou rapidamente, sempre parece nos deixar sem chão, sem rumo, sem forças para levantar de um tombo que nos recusamos a acreditar que levamos.
 
No entanto, tenho insistido no fato de que é possível renascer, superar, recomeçar e amar novamente...
 
Por conta disso, muitas pessoas terminam achando que estou insinuando que isso seja fácil.
De forma alguma quero dizer isso.
 
Sei, por experiência própria, o quanto é difícil, o quanto essa dor torna-se insuportável em alguns momentos e o quanto nos sentimos frágeis e desarmados para superar tamanha sensação de perda.
 
Vou tentar descrever agora de que forma acredito que podemos transcender a dor para renascermos mais fortes, mais maduros, mais inteiros e ainda mais preparados para um novo amor.
 
Creio que o primeiro passo seja querer isso, de verdade!
 
De nada nos adianta ou ajuda continuarmos tendo atitudes que nos prendam à situação dolorosa, à pessoa que não quer mais estar ao nosso lado, à uma relação que já secou, cuja raiz já foi arrancada, ou seja, precisamos decidir, internamente, que não queremos mais essa dor.
 
Mesmo que ainda falemos com a pessoa, mesmo que tenhamos de vê-la, precisamos desatar os nós, conscientemente, cortando a ilusão de que algo poderá mudar.
 
Ninguém muda da noite para o dia, ninguém passa a amar ou deixa de amar da noite para o dia.
 
Da mesma forma que precisamos iniciar um relacionamento aos poucos para que ele cresça e torne-se amor, também precisamos fazer isso para acabar com ele.
 
Quando um dos dois vai embora, não quer mais, o outro precisa deixar de alimentar o que sente, para que, enfim, pare de doer.
 
O que mais quero descrever aqui é como transcender a dor.
 
A dor é como um túnel que surge em nossa estrada, no caminho de nossas vidas.
Não há outra alternativa, não há nenhuma outra saída.
 
É por esse túnel que teremos de passar, para chegar ao outro lado.
 
 
É uma oportunidade que a vida nos dá para que aprendamos algumas coisas muito importantes, para que cresçamos, para que compreendamos algumas questões que, por algum motivo muito pessoal, não estamos compreendendo sem ela.
 
Pensei numa metáfora que pudesse esclarecer melhor como podemos superar essa dor, veio-me a seguinte: imaginem que tenhamos quebrado uma perna; dói muito e, em seguida, não conseguimos mais andar.
 
Não há outra saída: temos de ir ao hospital, temos de engessar essa perna e nos manter em repouso, recolhidos e em recuperação por um tempo. Dependendo da gravidade da ruptura, esse tempo é maior ou menor.
 
Assim também acontece com a dor do amor.
 
No entanto, como sempre tentamos evitar esse tipo de dor a qualquer custo, passamos a agir como se ela não existisse, na esperança de que essa decisão nos prive de senti-la.
 
Assim, a única coisa que conseguimos é estendê-la ainda mais, aumentá-la ainda mais, cultivá-la dentro da gente por um tempo muito mais longo, tornando-a mais intensa e mais enraizada à medida que a renegamos e fingimos que ela não existe.
 
É o seu coração que quebrou!
 
Faça como faria com sua perna quebrada.
 
 
Assim como o osso cuidado vai colar, também o seu coração vai recuperar-se.
 
Entretanto, para que isso possa acontecer, você precisa dar-se um tempo; não fugindo, mas entregando-se à dor, entrando em contato com ela, doendo até o fim, porque enquanto você não doer a dor que há para ser doída, ela continuará latejando em sua alma, queimando você por dentro e ocupando todo o seu coração... assim como aconteceria com a sua perna caso você decidisse fingir que ela não está quebrada, se insistisse em andar como se nada tivesse acontecido.
 
Essa é a única maneira de superar a dor: doendo, chorando, sofrendo.
 
Você poderia perguntar-se: Até quando?
 
O tempo necessário, o suficiente.
 
Você sentirá, você saberá, porque você tem um objetivo: senti-la até o fim, esgotá-la para que possa absorver todo o aprendizado que chega com ela e, enfim, parar de doer.
 
Quando você sentir que ela está insuportável, peça ajuda.
Chame um amigo, escreva essa dor no papel, tornando-a externa, colocando-a para fora de você, mas de forma consciente, conseguindo ficar diante dela e encará-la com sua coragem.
 
Faça uma terapia para tentar compreendê-la mais facilmente. Leia um livro que fale sobre sentimentos e o quanto podemos aprender com eles.
 
Enfim, faça qualquer coisa para aliviar a sensação de insuperabilidade, desde que não seja uma fuga, desde que você não aja como se ela não existisse, porque ninguém dói à toa, sem uma razão que o valha.
 
Desta forma, tenho certeza de que ela acaba. Nada é para sempre quando não queremos que seja; nem a dor, a menos que optemos por viver ignorando-a.
 
Talvez ela deixe cicatrizes, lembranças desagradáveis, mais depois de sentida, vivenciada e esgotada, o coração volta a ser fértil, abre espaço para uma nova oportunidade de amar.
 
Assim é a vida: noite e dia, tristeza e alegria, amor e dor, num constante movimento de nascer e morrer, garantindo a reciclagem e a evolução de todos nós.
 
Repito: não é fácil, nem um pouco fácil; mas é possível, e só depende de nossas escolhas, de nossos objetivos e do quanto conseguimos compreender que a dor faz parte, que ela é uma grande mestra.
 
 
Sem ela, nos acomodaríamos e nos acostumaríamos com tudo o que é triste, feio e inútil. É a dor que nos impulsiona em busca do amor inteiro, verdadeiro, maior.
 
 

FONTE: Rosana Braga, autora do livro 'AMOR - sem regras para viver', Editora Alaúde - www.alaude.com.br.
 
 
 
 

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Rosana Braga

Fonte:www.rosanabraga.com.br