Rio de Janeiro, 12 de Maio de 2024

Os cariocas e suas praias do coração

Barra, a top das tops
Praia é novamente eleita a melhor da cidade por banhistas de todas as tribos



A praia da Barra vista de helicóptero: do tamanho de quatro Copacabanas/Foto: Michel Filho
Paulo Marqueiro

A Praia da Barra é grande, mas cabe de ponta a ponta no coração dos cariocas. Ela foi eleita a melhor do Rio numa pesquisa do Instituto Molinaro para O GLOBO, feita com 3.300 banhistas, do Flamengo a Grumari, entre 6 e 9 de dezembro. Com seus 12 quilômetros de mar esverdeado e areia branca, a Barra conquistou 25% das preferências, oito pontos percentuais à frente da rival Ipanema, com 17%. Um banho, diga-se de passagem.

A distante e preservada Grumari, com 12%, arrebatou a terceira posição. Copacabana, ainda a nossa melhor garota-propaganda no exterior, não fez feio. Chegou num honroso quarto lugar (10%), seguida de perto da Prainha (9,7%), paraíso a cerca de 40 quilômetros do Centro. A pesquisa foi feita em 22 pontos da orla e no Piscinão de Ramos, que, apesar de ter nascido um lago artificial, foi elevado à categoria de praia por seus entusiasmados freqüentadores.

Em relação à pesquisa anterior, realizada em 1997 com os mesmos critérios, a Barra perdeu 11 pontos percentuais, o que revela uma certa debandada de suas areias. Apesar do tombo, continua surfando sozinha no topo do ranking. Além de melhor praia, a Barra foi eleita a favorita para crianças, jovens, adultos e prática de esportes. Já Ipanema parece ter recuperado a velha bossa: saltou de sétimo para segundo, passando de magros 3% para 17%, cinco vezes mais. A bela Grumari manteve o percentual de 1997, mas perdeu a segunda posição para Ipanema.

A cotação de Copacabana dobrou: passou de 4% para 10%, embora, no ranking, tenha conquistado apenas uma posição, subindo de quinto para quarto lugar. A imaculada Prainha também ganhou prestígio no volúvel coração carioca: pulou de 6% para 9,7%. Mas desceu um degrau, cedendo o quarto posto à sua antítese: a frenética Copacabana. A diferença entre as duas, porém, é tão pequena que configura empate técnico.

O Recreio, da beleza do Pontal, já não é o mesmo: despencou de terceiro para sexto lugar, embora tenha mantido os 7% da pesquisa anterior. A Praia do Leblon, sétima colocada, é citada como favorita por apenas 3,4%. Um fiasco. Mas quando a turminha do Baixo Bebê crescer, pode ser que ela vá à forra...

 
 
 
Point mais famoso tem o mar poluído. Mas isso pouco importa

A Praia da Barra desperta paixões nos moradores da Baixada Fluminense, dos subúrbios da Central e da Leopoldina, da Tijuca, do Centro e da própria região, enquanto Ipanema passou a ser a favorita da Zona Sul, que na pesquisa anterior preferia a Barra. Já a Zona Oeste se identifica mais com Grumari.

Com uma orla do tamanho de quatro Copacabanas ou seis Ipanemas, a Barra permite que todos tenham um lugar ao sol — desde que cada um saiba onde é a sua praia. A de Alex Torres, de 26 anos, por exemplo, é o trecho conhecido como Via Onze (antigo nome da Avenida Ayrton Senna). Com um grupo de amigos de Vila da Penha, ele costuma aportar por ali nos fins de semana, para um suculento churrasco à beira-mar.

A turma de Alex não está nem aí para o protocolo. Enquanto ela curte o sol, asinhas de frango, lingüiças e nacos de picanha douram na brasa. Como acompanhamento, música funk no volume máximo. Alex não troca a sua praia por nada. Farofeiro? Ele jura que não.

— Nosso churrasco tem de tudo, menos farofa — diz, dando risada.

A fartura do cardápio de Alex deixaria mareadas as amigas Taciana de Abreu Silva, de 20 anos, Patrícia Tepedino, de 21, e Eduarda Braga, de 20, três aviões que costumam fazer pouso no Pepê. As três, moradoras da Zona Sul, preferem algo mais frugal: água de coco ou mineral e, pecado dos pecados, sorvete Itália de manga de vez em quando. Jovens, mas veteranas no point, elas sabem as regras do lugar.

— Quando estou muito branca nem venho ao Pepê. Prefiro o Baixo Bebê, no Leblon. Lá, ninguém nota — confessa a bela Patrícia.

A única coisa que parece destoar no Pepê é o mar, que está quase sempre impróprio para banho. Talvez por isso, ele é quase um acessório. O quente mesmo é a areia.

— O Pepê é 100% azaração — diz Renata Thomé, 19 anos, moradora da Barra e freqüentadora assídua.

Tatuagem de golfinho no ombro, Karem Guichard, outra beldade que ilumina o Pepê, resume o espírito do point, onde apenas o excesso de lotação a desagrada:

— Quem quer ver gente bonita vem ao Pepê. Por isso, a tendência é ele ficar cada vez mais cheio.

O espetáculo dado pelas musas só tem um concorrente à altura: o pôr-do-sol do Pepê, que fecha com chave de ouro o ritual de beleza do point.

Perto dali, o Quebra-Mar está quase vazio. A turma que mora longe perdeu o pôr-do-sol, porque já está dentro do ônibus, no doce balanço a caminho de casa. Antes disso, Leandro Borges, de 19 anos, e seus amigos, moradores de Realengo, se esbaldaram na Praia dos Amores, minúsculo trecho de areia dentro do poluído Canal da Joatinga. É a parte que lhes cabe no latifúndio de areia da Barra. Mas quem liga para isso?

— A Barra é a melhor de todas — decreta Leandro, antes de enfrentar dois ônibus até Realengo.
 
 
 
 
Ipanema apita de novo

Redescoberta pelos moradores da Zona Sul, praia volta a ditar a moda


 
Para a galera do Posto Dez, naquele point a praia “bomba”/Foto: Gabriel de Paiva
Tulio Brandão

Descolados e alternativos do Posto Nove, podem apitar. Princesas louras do Dez, chegou a hora de usar aquele biquíni novinho do armário. Gays da Farme, tremulem suas bandeiras de arco-íris. Surfistas, moradores e suburbanos que freqüentam o Arpoador e o Castelinho, confraternizem. É tempo de comemorar. Seja lá onde estiverem, turmas da Montenegro, do madeirite, do Píer, das Dunas do Barato e até os ingleses que fundaram o Country, a festa também é de vocês. A Praia de Ipanema está de volta, num “revival” confirmado pelos cariocas em pesquisa do Instituto Molinaro para O GLOBO. Depois de, em 1997, amargar o sétimo lugar na preferência dos banhistas, Ipanema subiu para a vice-liderança na enquete deste verão. Recebeu 17% dos votos dos cariocas, ficando atrás apenas da campeã Barra, com 25%.

A vitória escapou, mas nada que baixe a moral de seus freqüentadores. Os banhistas da Zona Sul não hesitaram quando indagados sobre a melhor praia da cidade: escolheram Ipanema, com cerca de 22% dos votos. Na praia, em todos os pontos pesquisados — Posto Dez, Posto Nove, Castelinho e Arpoador — o voto foi o mesmo. Não foram os fiéis ipanemenses, portanto, que elegeram a Barra a melhor praia.

Na última década, porém, Ipanema andou meio esquecida, vivendo sob a sombra de praias mais atraentes. Cada freqüentador tem a sua versão para a debandada. A apresentadora de tevê Cynthia Howlett, gata do Nove, lembra do esgoto in natura despejado durante as obras do emissário, em 1999. Fernando Gabeira, deputado federal e dono da tanga que sacudiu Ipanema no início dos anos 80, fugiu do tumulto. Alfredo Sirkis, secretário municipal de Urbanismo e banhista de carteirinha, passou um tempo sem freqüentar o Nove quando a Aids matou vários habituês das areias e o glamour da praia, há duas décadas.

 
 
Intelectuais expulsos da Lapa mudaram a cara de Ipanema

Mas a Praia de Ipanema sempre esteve lá, com as Ilhas Cagarras emolduradas à sua frente, à espera de dias melhores. Nos últimos três anos, obras de saneamento reduziram o índice de coliformes. Na última primavera, análise da Secretaria municipal de Meio Ambiente em frente à Rua Maria Quitéria, ponto central da praia, identificou condições próprias em 80% dos dias monitorados. A situação ficou ainda melhor porque as concorrentes Barra, Prainha e Grumari começaram a dar sinais de esgotamento. O historiador Milton Teixeira comemora a retomada de Ipanema.

— A Barra está caótica, não funcionou como alternativa para a Zona Sul. Desde que os intelectuais foram expulsos da Lapa pelo Estado Novo, nos anos 40, e se refugiaram em Ipanema, canto mais distante da cidade até então, a praia se confunde com a história do Rio. Pode ter seus altos e baixos, mas será sempre a melhor — conta.

Ricardo Bocão, surfista e apresentador de TV, dá a versão de quem passou parte dos seus 49 anos nas ondas do Arpoador.

— Há pouco tempo, ir à Barra era uma espécie de fuga para o paraíso. Hoje, essas mesmas áreas viraram um inferno. Estão lotadas, não têm a infra-estrutura da Zona Sul e, para piorar, estão contaminadas. Até a Prainha tem dias nojentos. E, como o glamour de Ipanema nunca foi perdido, as pessoas voltaram — afirma o surfista.

Estão todas lá. No Arpoador, palco do mais belo pôr-do-sol da cidade — o único aplaudido de pé — segundo a pesquisa de 2003, com cerca de 20% dos votos válidos (em segundo ficou a Barra, com 14%), diversas tribos convivem pacificamente: surfistas, moradores e banhistas que vêm do subúrbio dividem espaço sem grandes problemas.

No Posto Nove, a mistura é outra. Várias tribos viram uma só na point mais libertário de Ipanema. Lá, é cada um na sua. Enquanto a estudante Daniele Maciel, de 16 anos, se diverte com os malabares, Verônica Campos joga peteca e não muito distante dali um grupo de garotos fuma maconha. Só param com o apitaço, sinal dos freqüentadores para a presença da polícia. A permissividade — muitas vezes excessiva — é a marca do point, cuja maior concentração atualmente fica à direita do posto, na Rua Joana Angélica.

Ruy Castro, autor do livro “Ela é Carioca — uma enciclopédia de Ipanema”, não acredita que o Nove tenha o mesmo poder transformador de praias de outras épocas, como a do Píer, point do início dos anos 70.

— A contracultura não existe mais em praia nenhuma do Rio. Acabou com o fim do Píer, na década de 70 — avalia.

Não demora a regra de Ruy Castro é contestada, e justamente pelos freqüentadores do Posto Nove. Juliana Luna, uma recepcionista boa de bola que joga altinho em fim de semana de sol, garante que a praia transformou sua vida.

— Na adolescência, eu só escutava funk. O Nove salvou minha vida. Aqui aprendi a não seguir o que está imposto, formei meu caráter, fiz amigos e conheci os bons livros — diz Juliana, de 22 anos.

 
 
Praia é a melhor do Rio para paquera, com 20% dos votos

A galera bonita do Dez fica longe de polêmica. Preferem a leveza de uma azaração. Não à toa, este é o pedaço de areia com mais beldades da Zona Sul. Quem leva a fama é toda Ipanema, que ganhou no quesito “praia para paquera”, com 20% dos votos, contra 19% da Barra.

Atualmente, a pedida é ficar em frente ao luxuoso Cap Ferrat, à esquerda do posto. Ali, como afirma a estudante secundarista Erika Madder, “a praia bomba”, querendo dizer que aquele pedaço de areia é espetacular. Loura, filha da classe média da cidade, ela tem o perfil do Dez. E não hesita em detalhar a azaração das areias:

— Aqui você vem para ver e ser visto, não é lugar de beijar ninguém. O que rola é o velho teste da areia: o homem fica com as meninas à noite e no dia seguinte vem aqui para avaliar o corpinho...

Não importa o point, o sol não se põe sem bronzear as garotas de Ipanema. Para Ruy Castro, a precursora foi Laura Alvim, uma bela e rebelde jovem que no século passado morava no casarão onde hoje funciona um centro cultural. Mas primeira a arrebatar todos os corações foi Tonia Carrero, hoje com 80 anos. Na década de 40, ela morou na Avenida Vieira Souto. Teixeira lembra que não havia quem parasse ao ver Mariinha Thiré (como Tônia era chamada na adolescência) passar em Ipanema. Ruy Castro afirma que a moça devia ser, naquela época, “sem patriotada, a mulher mais bonita do mundo.” Ela sabia disso e gostava do posto:

— Era consagrador, quando usei biquíni foi um furor — lembra.

O status de Tonia ficou intocado até o início da década de 60, quando Vinícius de Moraes e Tom Jobim se encantaram por uma jovem chamada Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto. A moça, então uma normalista adolescente de 19 anos, passava a pé em frente ao Bar Veloso, onde bebiam os dois amigos, no caminho da praia. A dupla, encantada, a homenageou com “Garota de Ipanema”. Vinícius a descreveu como “o paradigma do broto carioca, a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça”. A música consagrou Helô Pinheiro, revelou Ipanema e a bossa-nova para o mundo e ajudou a transformar o doce balanço do mar de sua praia em história, revivida até hoje pelos banhistas.
 
 
 
 
Píer: onde as areias eram libertárias

O primeiro point foi o Arpoador, a terra das mulheres liberadas dos anos 50 e, mais tarde, dos madeirites e das pranchas. Depois, a moda caminhou para o Castelinho, uma construção mourisca entre as ruas Francisco Otaviano e Rainha Elizabeth, que virou referência graças ao bar vizinho Mau Cheiro. Na década de 60, o local tinha clientela descolada, como os músicos da bossa-nova. Mas o divisor de águas, o trecho de areia que mudou a vida da cidade, foi o Píer. Nasceu em 1970, como uma estrutura de ferro montada entre as ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Melo para a construção do emissário submarino de Ipanema. Mas entrou para a história como a praia do desbunde, da liberdade total, onde sexo, drogas, vestuário, comprimento do cabelo, surfe, tudo foi subvertido. Gal Costa, o hoje ministro da Cultura Gilberto Gil, os diretores do cinema novo e tantos nomes de peso do país pisaram naquela areia. O sonho acabou em 1973, quando os turistas, atraídos pelas estrelas que freqüentavam o local, invadiram a praia.
 
 
 
 
As praias do coração

 
Avaliação de cada point pelos próprios freqüentadores mostra que os mais satisfeitos estão na Prainha e no Piscinão
Paulo Marqueiro

Um foi construído pelo homem. A outra é uma obra da Natureza. Ele é o Piscinão de Ramos, lago artificial edificado ao lado da poluidíssima Praia de Ramos, na Zona da Leopoldina. Ela é a Prainha, tesouro natural escondido entre as montanhas da Zona Oeste. Dois opostos da orla do Rio. Mas, para os banhistas, cheios de afinidades.

A pesquisa do Instituto Molinaro para O GLOBO mostra que o Piscinão e a Prainha receberam as melhores notas entre os 22 points avaliados pelos próprios freqüentadores. O Piscinão somou 190 pontos e a Prainha, 189, configurando empate técnico. O resultado pode até ser surpreendente, já que os dois têm tanto em comum quanto as torcidas do Flamengo e do Vasco, mas é bom lembrar que ele reflete a satisfação dos banhistas com as suas praias. E, nesse caso, o coração pode falar mais alto do que a razão.

 
 
Prainha cinco vezes no topo das notas

Ao darem notas de um a dez para nove quesitos de seu point, os freqüentadores da Prainha a puseram cinco vezes no topo da tabela. Ela recebeu as melhores notas para água (9,2), areia (8,8), segurança (8,4), freqüência (9,4) e aparelhos para a prática de esporte (7,7).

— A Prainha é tudo de bom. É o Rio que não parece Rio — diz Taciana de Abreu Silva, freqüentadora do Pepê, do Nove e do Arpoador que às vezes dá uma esticada à Prainha.

A loura Fernanda Mayrinck, de 28 anos, administradora de empresas, lista mais uma vantagem para mergulhar nas águas claras da Prainha:

— Ela é uma praia selvagem a 15 minutos de qualquer shopping.

Já o Piscinão de Ramos conseguiu as maiores notas em quatro quesitos: banheiros (7,2), estacionamento (8,3), acesso (9,3) e quiosques (9,3).

O terceiro lugar na tabela coube à Via Onze (153,1 pontos), que ficou embolada com o Arpoador (152,8), o quarto; o Pepê (151,8), o quinto, e a Reserva (149), a sexta.

Enfrentando uma maré de reprovação, Botafogo, o patinho-feio da orla, reúne quatro das piores notas: água (3,2), segurança (3,7), estacionamento (2,6) e quiosques (2,4).

No sobe-e-desce das praias, em relação à pesquisa de 1997, Macumba, Posto Nove, Reserva, Pepê, Via Onze e Prainha deram um salto de qualidade, segundo a avaliação de seus banhistas. Mas Recreio, São Conrado, Leme, Quebra-Mar e Castelinho perderam prestígio, despencando tabela abaixo.

Quem mais subiu na cotação dos banhistas foi a Praia da Macumba, onde parte da orla ainda permanece sem urbanização, como a Barra da Tijuca de antigamente. Estacionamento fácil, trailers de madeira e ambiente familiar fazem a alegria dos banhistas. A Macumba ganhou dez posições na tabela. Já o maior tombo foi o do Recreio, que perdeu 16.

— O Recreio ficou muito cheio de prédios. Por isso, prefiro pegar onda na Prainha, que é cercada de verde — conta a surfista Sabrina Cassinelli, de 22 anos, moradora do Recreio e uma das musas da Prainha.

O quesito banheiro recebeu a pior média de todas: 3,3, mostrando que os banhistas estão insatisfeitos com a falta de sanitários e chuveiros ou com a qualidade dos já existentes. Por outro lado, freqüência teve a melhor média (7,2) entre os nove itens.

A pesquisa revela também que os banhistas tratam suas praias como pais corujas. Para o point que freqüentam, eles dão média 7,4, mas para as praias em geral, cravam 6,9.

Os mais satisfeitos são os freqüentadores da Prainha, que atribuem ao seu paraíso nota 9,2. Já os menos contentes são os banhistas de Botafogo, que punem sua praia com a menor nota da tabela (4,8).

Isso mostra que a paixão do carioca pelo mar não o deixa cego em relação às mazelas da orla. Pelo contrário. Para 61% dos banhistas, as praias do Rio deveriam ser mais bem cuidadas. Metade dos entrevistados cita a poluição como o maior problema do litoral, embora 55% não se informem sobre a qualidade da água antes de mergulhar.

Um em cada três banhistas reclama da precária infra-estrutura da orla do Rio. Esse eleitorado de sunga e biquíni não quer apenas sol e água fresca: reivindica também chuveiros, banheiros, quiosques e lixeiras.

Por outro lado, quando se derramam em elogios às suas praias, 39% dizem que o melhor é a integração com a natureza. Para 29%, as pessoas — em outras palavras, musas e musos — são o que existe de mais interessante na orla.

 
 
Metade mudou de point nos últimos anos

A pesquisa mostra que Ipanema está sendo redescoberta. Ela reinava absoluta nos anos 60, quando Tom Jobim e Vinícius de Moraes revelaram ao mundo a beleza — sem silicone — de suas garotas. Essa nova onda pode estar ligada a uma dança das cadeiras. De praia. Os números revelam que metade dos entrevistados mudou de point nos últimos anos. Destes, 28% o fizeram pela dificuldade de acesso; 26% devido à poluição e 12% por detestarem praia cheia. A maior debandada aconteceu em Copacabana (17,2%) e na Barra (17%).

As areias do Rio são um território dominado mais pelos biquínis e maiôs do que pelas sungas. Segundo a pesquisa, as mulheres vão mais à praia que os homens (55% a 45%). Os jovens também são arroz-de-festa na orla carioca: um em cada quatro banhistas tem entre 19 e 24 anos.

Os moradores da Zona Sul são maioria nas areias: 35%. Em segundo lugar, aparecem os da Zona Oeste (14%), dos subúrbios da Central (13%) e de Jacarepaguá (11%).Os moradores da Barra somam 5%.

 
 
 
Todos querem piscinão

Adorado pelos freqüentadores, lago artificial é aprovado também na Zona Sul por esvaziar praias

Paula Autran

Quanto mais piscinões, melhor. Na opinião de 65% dos banhistas ouvidos na pesquisa do Instituto Molinaro para O GLOBO, a construção de praias artificiais é muito bem-vinda. Mas não só os suburbanos e moradores da Baixada, seu público alvo, torcem por isso. Deixando transparecer que não querem ver sua praia invadida, 29% dos banhistas cariocas acham que, quanto mais piscinões, menos gente lotará as praias nobres da orla. Os que mais expressam esse desejo são os banhistas da Barra: 100% dos que freqüentam o Posto 10, em Ipanema, dizem querer praias mais vazias ao apoiar a construção de piscinões. Dos moradores do bairro que vão ao Pepê, 37,5% disseram o mesmo.

Para 26% dos banhistas ouvidos, construir piscinões é dar mais opções de lazer. Outros 23% destacam o fato de eles trazerem benefícios a regiões distantes da Zona Sul.

— Essa divisão de galera é ótima. Eles ganharam a diversão que a gente já tinha, só que perto de casa. Tomara que o governo construa outros — resume o estudante Marcelo Sparano, que mora em frente à Praia da Barra e freqüenta o Posto Dez.

— O povo da Zona Sul quer se livrar dos farofeiros. Esse preconceito sempre existiu — garante o cantor Dicró, fã número um de Ramos.

Para o vice-governador e secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Luiz Paulo Conde, não se trata de preconceito.

— O homem não é leão marinho para viver embolado! Praia vazia é muito mais agradável — diz ele, destacando, porém, que o piscinão é mais democrático. — Tem lugar para gordos, magros, feios, farofa...

Seja como for, outro piscinão está para ser inaugurado pelo governo do estado em São Gonçalo. A Prefeitura tem um projeto semelhante, só que sem sal. Ao menos na água, que vem da Cedae. Mas o arquiteto Paulo Casé, que projeta as piscinas de vizinhança de Deodoro, Jabour, Saúde e Lins, conta que elas terão piso de pedra portuguesa e areia.

 
 
 
As eleitas da praia

Deborah Secco, Scheila Carvalho e Daniella Cicarelli são as musas

Adriana Castelo Branco

Menos de um ano depois de mudar radicalmente seu visual — de garotinha para mulherão — a atriz Deborah Secco foi eleita a musa das praias cariocas, com 10,10% dos votos de 3.300 banhistas. O segundo e o terceiro lugares ficaram com a cantora de axé-music Scheila Carvalho (8,82%) e com a modelo e apresentadora da MTV Daniella Cicarelli (8,37%). As atrizes Luana Piovani e Viviane Araújo arrebataram o quarto e o quinto lugares na eleição, respectivamente.

As três musas eleitas têm perfis bem diferentes e eleitores mais díspares ainda. Apesar das fotos na “Playboy” e dos 235 mililitros de silicone em cada seio, Deborah preferiu rejeitar o título. E, como recusou-se a ser fotografada, mesmo vestida da cabeça aos pés (até a entrevista ela só deu por telefone), provou estar mais para musa envergonhada. Já Scheila Carvalho, exibida desde criancinha (ela conta que já posava nua para a mãe aos 3 anos) acabou ganhando o status de musa desinibida. Mais recatada, a modelo Daniella Cicarelli, por sua vez, que está dando os primeiros passos na carreira de atriz e apresentadora, ficou com o título de musa orgulhosa.

— Fico lisonjeada e feliz, mas não quero me limitar a ser uma musa. Não quero o rótulo de mulher bonita e gostosa. Sou normal — disse Deborah, que liderou a votação em Recreio, Pepino, Piscinão, Leblon, São Conrado, Castelinho e Flamengo e ficou entre as cinco mais citadas em 16 praias — disse a atriz, que pode ser vista correndo todas as manhãs na Praia do Recreio.

Para pegar sol, porém, Deborah prefere a Reserva, justamente onde teve pouquíssimos eleitores: lá foi derrotada por Daniella Cicarelli e Luana Piovani.

A cantora do grupo de axé-music “É o Tchan”, Scheila Carvalho — empatada tecnicamente com o
terceiro lugar — foi a musa das praias mais populares, como o Quebra-Mar, na Barra, a Praia de Botafogo e Grumari, esta freqüentada majoritariamente por moradores da Zona Oeste. Curiosamente, a praia que a mineira de Juiz de Fora costuma freqüentar em suas passagens pelo Rio é Copacabana — onde nem chegou a ser citada.

— Nossa, fui eleita? Estou super feliz, principalmente porque nas praias do Rio as pessoas dão muito valor ao corpo malhado. Cultuo meu corpo justamente para fazer bonito na praia — reagiu ela.

Moradora de Salvador há seis anos, Scheila, que se autodenomina “rata de praia”, também não abre mão do mar de Cabo Frio. Mas, na última vez que esteve no Rio, no fim de semana passado, não teve tempo de pisar na areia.

Outra mineira, a modelo e apresentadora Daniella Cicarelli, provou que seus olhos verdes já conquistaram uma legião de fãs cariocas. A moça que começou a carreira de modelo há apenas dois anos em São Paulo, onde mora, ficou com a liderança nos points do verão como a Reserva, o Pepê, o Posto Nove e a Prainha, sua praia. Foi a primeira também na Via Onze e no Barramares. Citada entre as cinco primeiras colocadas em 14 praias, ela diz que terminou 2002 fazendo o que mais gosta: trabalhar em frente ao mar.

Veteranas como Luma de Oliveira, Vera Fischer e Luisa Brunet foram lembradas por centenas de banhistas e até quem pouco anda pelo nosso litoral ganhou destaque entre os eleitores — caso da apresentadora Ana Maria Braga. Uma prova de que popularidade conta mais do que a presença nas areias. Está explicado então porque a brasileira mais conhecida fora do Brasil, a modelo Gisele Bündchen foi uma das cinco mais votadas no Quebra-Mar e ficou em quinto lugar nas praias da Zona Sul, apesar de passar a maior parte do verão entre a Europa e os Estados Unidos. Outra divertida surpresa foi a a atriz Regina Casé ter sido eleita a segunda musa no Piscinão de Ramos, perdendo apenas para Deborah Secco.

— Agradeço e fico feliz. Só achei que merecia ficar com o primeiro lugar — diverte-se Regina, que gravou um programa no Piscinão para o “Fantástico” no verão passado.

Crédito:Anna Beth

Autor:Paulo Marqueiro, Tulio Brandão, Paula Autran

Fonte:O Globo