Rio de Janeiro, 03 de Maio de 2024

Brasil + 50 *** Eu + 50

Por Marli Gonçalves
 
 
Eco-92, Rio +20, patati patatá, e São Paulo + 1 se continuar o loteamento político que está sendo arranjado.
 
Andei fazendo uma média pessoal otimista e concluí que a Terra deve aguentar pelo menos mais uns 50 anos, tempo razoável no qual me imagino ainda por aqui. Depois, o futuro a Deus pertence.
 
Mas se for para continuar só discutindo coisas chatas, sem agir, a gente vai até pedir "para sair"
 
É horrível dizer isso, mas tenho de aproveitar as vantagens de minha própria vida.
 
Como não tenho filhos e, portanto, não tenho de pensar em netos, bisnetos e quetais e quetinhos, meu cálculo foi egoísta. Penso em 50 anos à frente, já me vendo centenária, e ainda habitando a Terra.
 
Comecei seriamente a pensar no assunto essa semana, com a verdadeira overdose de boas intenções que não saem do papel que estão sendo emitidas com carbono e tudo pela Rio + 20.
 
Claro que queria estar lá por perto, por uma série de motivos, entre eles um pouco de praia, Sol, gente diferente, movimentação e uma especial segurança providenciada para os chefes de Estado que tiraram o traseiro da cadeira para dar uma chegada no pedaço.
 
Chega a ser extraordinária a falação propiciada por um evento desses.
 
Mas nem eu mesma sei definir porque estou pondo muito menos fé agora, 20 anos depois, e tão menos do que acreditava piamente à época da Eco-92, que acompanhei atenta, feliz, torcendo pelas matas, oceanos, índios, árvores, fauna e flora. Era bandeirinha em punho, broche na lapela.
 
A gente amadurece e vai ficando descrente, creio. Mas, no caso, minha descrença é ajudada pela realidade simples e sórdida.
 
Amazônia mais desmatada, escassez de águas limpas, povos com fome e chagas, os mesmos países desenvolvidos, os outros tantos ainda em desenvolvimento, os pobres mais pobres e a violência cada vez mais sem fronteiras.
 
Parece o uso de gerúndio disseminado: vamos estar fazendo, vamos estar implementando (urghhh!) algumas medidas.
 
Enquanto isso nós cairemos mortinhos da silva, sem ar, sem água, surdos de barulho e nesse meio tempo ainda sem saber direito sobre qual é a das ondas eletromagnéticas e sobre o efeito de qualquer coisa nas margaridas do campo.
 
Não nos diziam e garantiam ao nos ensinar a História que a Humanidade jamais permitiria novamente chacinas e matanças como as presenciadas durante a 2ª Guerra Mundial, porque estaria atenta - e atitudes incivilizadas seriam rechaçadas por todos os povos?
 
O que está acontecendo na Síria, que nos espirra sangue todo dia, é o quê?
 
Na Chechênia, foi o quê?
 
Agora até quem nega a própria história, como o baixinho do Irã de nome complicado, está entre nós!
 
De que adiantam tratados e tratados assinados com pompa?
 
Espero não ser apedrejada, mas o que vejo acontecer é apenas que um montão de coisas que seriam bem simples de fazer, no dia-a-dia, ou com a boa vontade de alguns governantes, ganhou nomes pomposos, repetidos à exaustão com caras de "conteúdo" e esvaziados na outra ponta do telefone sem fio. Viram palavras enooooooooormes para a gente carregar: sustentabilidade, uma delas. Desenvolvimentista. Vulnerabilidade. Diversidade. Pluralismo. Isso quanto uma não se junta com a outra, tipo pluralismo desenvolvimentista planetário. Palavras boas para brincar de "forca". No meu tempo a maior era inconstitucionalissimamente. Paralelepípedo.
 
O mundo fica é andando aos pulinhos de 20 em 20.
 
Não salvamos as matas nem descobrimos como eliminar rugas e gorduras indesejadas. Não descobrimos a cura do câncer nem da Aids e ainda estamos mapeando genomas.
 
No nosso adiantado país ainda há - inacreditável!- arrastadas discussões sobre liberar o uso de células-tronco, e as mulheres ainda não podem dispor de seu próprio corpo.
 
Até a Era do Aquário se atrasa quando tem de passar pelo crivo dos parlamentares que temos, em quem votamos porque são os que aparecem para concorrer.
 
O que me lembrou agora de uma das melhores piadas do ano: esta semana, acredite, a claque da tal CPI do Cachoeira, cachoeira mais seca que as 7 quedas, coitada, já natimorta, vai parar para uma pausa.
 
Não! Não seja tão pessimista!
 
Não é porque estamos em junho e os coronéis das bancadas de uma determinada região queiram ir tomar quentão, dançar quadrilha, olhar a cobra.
Não!!!
 
Este ano, segundo a cara de Pau-Brasil em extinção dos desditos, a pausa será por causa da Conferência pelo Meio Ambiente. Vai mesmo ser demais acompanhar aquelas peças raras trabalhando duro no Rio de Janeiro, lutando pelas árvores, passarinhos, peixinhos, contra o aquecimento global.
 
Estando lá, melhor do que em Paris, às nossas custas, poderão usar bandanas de guardanapos de linho para se proteger dos maléficos raios UVA e UVB, passando óleo de peroba naqueles seus troncos viris.
 
Mas bem que também poderíamos ser poupados de mais cenas dantescas e vazias que materializam por lá.
 
Juro que vi o nosso chanceler Patriota depositando 10 reais numa urninha para compensar as emissões do uso do avião que fez para ir de Brasília ao Rio. E ele ria. Isso é que é simbólico.
 
Juro também que queria achar é quem soubesse e calculasse quanto eles deveriam nos pagar por causa das emissões de tantas bobagens que fazem.
Estas, sim, tornam o ar cada dia mais irrespirável.
 
São Paulo, e alhos e bugalhos inflando um balão de ensaio "mistura tudo, tapa o nariz e bebe" atrás do poder municipal. Telegráfico. PT em SP. A última batalha do pachá, 2012
 
 
 

Marli Gonçalves é jornalista-

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Marli Gonçalves

Fonte:Universo da Mulher