Rio de Janeiro, 20 de Abril de 2024

Relacionamento íntimo

É fato sabido que as relações íntimas, (casamento, noivado, namoro e outros tipos de relacionamento mais modernos entre homem-mulher) às vezes são pautadas pela presença de algum tipo de problema de convivência.
 
“Existem relações amorosas onde a pessoa que ama não deseja apenas o outro, mas deseja também o desejo do outro, o sentimento do outro e tudo o que possa estar ocorrendo na intimidade psíquica do outro”, exemplifica a psicanalista Soraya Hissa de Carvalho.
 
Segundo ela, tem sido freqüente o comportamento abusivo no relacionamento íntimo, através de alguns tipos de abuso, como por exemplo, os psicológicos.
 
“O abuso no relacionamento interpessoal íntimo tem efeitos danosos marcantes na qualidade de vida, na saúde física e emocional. Na maioria das vezes o relacionamento não se desfaz porque o companheiro (a) não abusivo (a) insiste em acreditar que, de uma hora para outra, mediante amor, carinho, complacência e tolerância, haverá uma grande mudança na personalidade do outro, que passará a ser a pessoa ideal” relata.

 

Abuso Psicológico

De acordo com a psicanalista, o abuso psicológico tem intenção de causar sofrimento psicológico e ferir moralmente outra pessoa, e é, às vezes, tão ou mais prejudicial que o abuso físico, e se caracteriza por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas.

“É um abuso praticado tanto por homens quanto mulheres. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes profundas para toda a vida”, explica.

Como exemplo, Soraya explica um tipo comum de abuso psicológico que se dá sob a autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção, carinho e adulação.

“A intenção do agressor histérico é mobilizar o outro tendo como chamariz alguma doença, dor, problema de saúde, enfim, algum estado que exige atenção, cuidado, compreensão e tolerância”, explica.

Outro exemplo que ela cita é fazer o outro se sentir inferior, dependente, culpado ou omisso.

Para Soraya, este é um do tipo de agressão emocional dissimulada. Outra forma de abuso psicológico é o simples silêncio, segundo ela.

“Isso ocorre quando algum comentário, atitude ou opinião é avidamente esperado e a pessoa, por sua vez, se fecha num silêncio incomum”, destaca.

Segundo Soraya, as atitudes agressivas podem refletir sentimentos de mágoa e frustrações antigas ou atuais, podem refletir a necessidade de solidariedade emocional não correspondida (estou mal logo, todos devem ficar mal). Para ela, cada caso é um caso, é preciso avaliar a situação, as personalidades envolvidas e o passado de cada um.

Causas

Soraya afirma que geralmente escolhemos os nossos pares pelo comportamento aparente, e aquilo que queremos para nós, depositamos nesse outro.

“Entretanto, durante o período de namoro não nos permitimos ver, realmente, quem é o outro. Com a chegada da rotina no relacionamento torna-se possível conhecer a pessoa como ela é de verdade. Então, começam a surgir os problemas, haja vista o fato de iniciar-se uma intolerância com relação aos defeitos do outro”.

Por isso, segundo ela, as causas do abuso com o companheiro se devem a uma grande diversidade de circunstâncias.

“Estudos empíricos sobre os relacionamentos íntimos mostram que crianças traumatizadas, maltratadas, abusadas, abandonadas, ou seja, com prejuízo na formação da afetividade durante a infância apresentam, com freqüência, modelos inseguros de representação da realidade na idade adulta, com conseqüentes dificuldades no relacionamento íntimo”.

A psicanalista explica que geralmente o casal não consegue perceber este tipo de deficiência em seu relacionamento e focaliza os problemas em outras questões, ou ainda, prefere nem tocar no assunto.

“Há ainda, casos em que ignoram a possibilidade de lançar mão de uma psicoterapia. E, existem situações em que a resistência impera. Assim, perde-se a chance de resolver na causa os efeitos de uma convivência difícil”, alerta.

Conseqüências

Conforme a explicação da psicanalista, as conseqüências incluem a depressão, sentimentos de elevada desconfiança em relação aos membros do sexo oposto, hipervigilância, tensão, sobressaltos e baixa auto-estima, medo, raiva, isolamento e ansiedade aguda, depressão, abuso e dependência de drogas e álcool e sintomas de estresse pós-traumático.

Conclusão

Por fim, Soraya diz que contribuem para a qualidade do relacionamento íntimo com o companheiro um conjunto de circunstâncias: sejam de natureza pessoal, comportamental, e sociocultural. “Além disso, o tipo de relacionamento mantido com os pais durante a infância tem um importante papel na formação do vínculo afetivo e implicações no comportamento e atitude afetiva diante da vida.

Soraya Hissa de Carvalho - Médica e Psicanalista.

 

 

 

Crédito:Cris Padilha

Autor:Aline Barbosa

Fonte:Universo da Mulher