ENCONTRO

Por mais que fingisse não acreditar nas profecias dos horóscopos publicados no jornal, Walkíria não deixava de ler um dia sequer. Pouco entendia sobre os aspectos e símbolos astrológicos, mas preferia seguir os conselhos impressos a consultar seus próprios desejos. E este seria o dia há tanto esperado. Não se importou com a previsão de uma chuva forte ao entardecer. Levantou-se da cama, olhou-se no espelho e disse: - “Este será o meu dia!”.

Em menos de uma hora esta pronta para ir ao salão, fazer escova nos cabelos, as unhas e maquiagem fatal. Não poderia pensar em participar de um encontro interplanetário sem os devidos cuidados. Logo depois (mais precisamente quatro horas depois) ela entrou numa loja de departamentos e comprou de sais de banho a brincos de pérolas. Foi também a uma boutique de roupas finas e comprou um sensual vestido vermelho. A cor era perfeita! Ela finalmente estava preparada para o encontro, ou melhor, para a conquista. Ou ainda melhor, para a conquista do encontro.

Às quatro da tarde, Walkíria já não era mais a mesma. Tinha se surpreendido dentro do vestido vermelho e das meias pretas de seda. Pintou os lábios com um batom do mesmo tom e sorriu. Não era mais aquele sorriso libriano, como quem ao mesmo tempo pede e recusa. Nem o sorriso pisciano de quem ao invés de cumprimentar, se solidariza. O sorriso de Walkíria simbolizava as conquistas mais arriscadas de Sagitário.

Uma rajada de vento trancou a porta de seu apartamento. Estava presa, faltava apenas cinco horas daquela que seria a noite mais importante da sua vida. A chuva começou a cair sem consulta prévia dos astros. A lua ficou esquecida atrás das nuvens, impossível de ser avistada. “E Marte: Aquele incompetente” pensava com raiva. Walkíria perdeu então a esperança e voltou a reler a coluna do horóscopo: “Tenha mais esperança em si mesma”.

Procurou as chaves da porta dos fundos e as encontrou debaixo do sofá da sala. “Como elas foram parar lá e como eu as encontrei tão rápido?”, perguntou desconfiada às paredes. Desceu então até a portaria do prédio e ficou esperando a chuva estiar um pouco.

Do outro lado da rua, um carro enguiçara. Um motorista, um homem alto, cabelos escuros, parecia não acreditar no que acontecera. Estava parado no meio da rua, observando o céu. Eram quase seis horas da tarde e a noite estava apenas começando quando o homem atravessou a rua, se aproximou de Walkíria e perguntou se ele tinha uma lanterna. “O que fazer se a chuva não passa e eu nem posso ir ao encontro?”. Subiu até o apartamento, pegou a lanterna e desceu. O homem continuava olhando para o alto, tão absorto que se assustou com a chegada de Walkíria e deixou cair ao chão o livro que segurava. No título: “Astrologia - A Conquista dos Planetas”, de Omar Seixas. Ela perguntou o nome do homem. Ele respondeu: “Omar” e falou algo que ela só compreenderia alguns anos mais tarde: “Com essa chuva é impossível vermos a Lua e Marte tão próximos e você fica linda neste vestido vermelho”.