Rio de Janeiro, 18 de Maio de 2024

Fim de século

Numa sociedade consumista e em plena era do "descartável" verifica-se que
cada pessoa, dentro da realidade de sua renda, acaba consumindo muito mais
coisas do que são necessárias e supérfluas.

 
Adquire-se um bem e imediatamente ele se desvaloriza, em termos de valor
financeiro e em termos de valor sentimental. A moda faz esse processo se
perpetuar: o casaco de lã comprado no inverno passado, não satisfaz mais
neste inverno e, portanto, compra-se outro. O guarda-chuva comprado no verão
será substituído por outro agora no início da primavera. O carro que acabou
de ser adquirido, modelo 1999, já está velho e fica-se admirando outro,
enfim, os modismos e os costumes nos levam a querer possuir muitas coisas e
esses desejos são tão fortes que nos impelem ao consumo imediato.

 
Os desejos e a pressa de consumo levam as pessoas a um egoísmo não pensado e
a uma sensação insaciável por bens. Comprar cada vez mais e rapidamente. A
bola de neve do desejo de consumo não se restringe aos bens materiais, se
expande a lazer, cursos, viagens, livros, amigos, etc. Cada um tem o seu
estilo de consumo próprio e dentro dele está o consumismo e o imediatismo.
Como isso poderá estar influenciando no comportamento social e nos
relacionamentos?

 
Pode-se observar que nossas relações também acabam por se tornar
descartáveis. As palavras acabam por descrever uma relação amorosa como algo
intencionalmente superficial; fulano ficou com esta pessoa, tal teve um caso
com outrem, eu estou em rolo com... Será que as pessoas também estão se
tornando descartáveis em nossas vidas?  Será que o desejo de felicidade e de
amor ou companhia passam a ser nos dias atuais necessidades de consumo?
Precisamos consumir nosso namorado atual, que já estará ultrapassado no
verão. Meu amigo de infância que agora ficou velho não está mais com nada,
não serve mais. Meu primeiro marido se tornou o segundo e se tornará o
terceiro no próximo ano, pois, já estou de olho em um modelo mais novo!

 
Como será no futuro? Se hoje já se conversa virtualmente pela Internet e
cada acesso a um site eu tenho um novo amigo? Entra-se na sala de bate-papo
e se conversa sem saber com quem e se não nos agrada é só sair. A tecnologia
traz a rapidez, o relacionamento imediato que se desfaz ao simples clique do
mouse. A vida assume o tempo da rapidez fazendo com que se viva tudo tão
rapidamente, que não surge mais o tempo para elaborações, discernimentos,
reflexões e oportunidades de decidir mudar tudo, ou ficar como está.

 
Na verdade não se lapidam mais os desejos e os relacionamentos que, como os
diamantes, queremos prontos, lindos, límpidos e na hora. A associação do
prazer e do imediatismo é o que se alcança no consumo de bens e em um grau
mais intenso no uso de drogas.

 
As drogas são substâncias químicas que agem no cérebro proporcionando uma
satisfação imediata do desejo. Quando se quer dormir, dormir-se-á na hora
com um comprimido, se eu desejo rir, rirei na hora com um pouco de pó, se eu
quero me ligar e ficar agitado a mil, é só um pouco de droga que fico legal.
Observa-se uma satisfação tão plena e imediata com o uso das drogas que não
é possível substituí-las com a mesma eficácia e com a mesmo prazer. Por isso
o aumento constante de drogados, que assim como os consumistas plenos obtêm
de uma forma rápida tudo o que querem sem grandes problemas. Fica-se bem
através de uma substância química, mágica, que me tira rápida e
imediatamente, daqui para lá de uma forma tão eficiente e rápida que não se
pode ter reclamações.

 
Nos tratamentos e consultas psicológicas ficam algumas opções de reversão
nesse processo consumista e imediatista, aonde as pessoas são levadas a
pensarem mais, parar para elaborarem mais suas questões e assumirem a
continuidade dos seus processos de relacionamento sem ter a expectativa da
resposta imediata.

 
Controlando nossos impulsos consumistas e valorizando mais nossas velhas
relações e amizades podemos estar exercitando nossas emoções e repensando
com tranqüilidade a vida, que é para ser vivida lentamente e com a calma da
apreciação, como um bom vinho...

 
 
 
 
 
Walnei Arenque e Olga Maria Panhoca da Silva

Crédito:Walnei Arenque e Olga Maria Panhoca

Autor:Walnei Arenque e Olga Maria Panhoca

Fonte:Universo da Mulher