Rio de Janeiro, 14 de Maio de 2024

Caco Barcellos concede entrevista a VIP de novembro

Jornalista é o escolhido da seção Talk Show da VIP e revela sua opinião sobre o filme mais comentado do ano, Tropa de Elite.


 Foto: Rui Mendes

 

 

            Aos 57 anos, ele é autor de Rota 66, que narra a ação da PM de São Paulo na matança de civis entre 1970 e 1992, e Abusado, que mostra a formação de quadriha num morro carioca. No país que só fala de Tropa de Elite, o jornalista Caco Barcellos conta à VIP sua experiência de décadas com a (falta de) segurança pública.

 

            Caco Barcellos acha interessante que as pessoas estejam falando sobre a questão da violência, mas acha preocupante a interpretação que o público tem tido. “Houve um tempo em que o país não discutia mais sobre segurança pública. Mas a minha preocupação é no sentido de estarem enxergando o personagem central (Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura) como um herói. E também me preocupo com o fato de ninguém ter discutido ainda as mortes provocadas pelo Bope”, analisa.

 

            Caco diz que em 30 anos de jornalismo nunca ouviu uma história do Bope atuando com a mesma violência na área rica da cidade. “Como é o Bope quando atua no Leblon, em Ipanema? Usam aquele saco plástico na cabeça de alguém? Você conhece algum rico que foi morto pelo Bope?”, questiona.

 

            Porém, ele salienta que não está fazendo uma crítica ao longa: “Tropa de Elite é um filme de ficção, o diretor tem toda a liberdade para tratar do que quiser na obra dele. Mas é triste saber que a sociedade está escolhendo um matador para herói”.

 

            Questionado sobre o que mudou entre Rota 66 e Tropa de Elite, Caco afirma que a Rota fez escola, o Bope, mas acrescenta que tem anos que a polícia de São Paulo mata muito menos. "Eram 1500 pessoas em 1992, quando lancei o livro. Esse número baixou para 300. Mas a criminalidade de São Paulo não se alterou. Na verdade, a única coisa que mudou foi a redução no número de homicídios. É óbvio que, quando a polícia mata menos, a sociedade fica menos violenta”, relata o jornalista complementando que no Rio, mais de 20% dos crimes de homicídio são praticados pela polícia.

 

            Para Caco, bastaria uma ação pública eficaz para que houvesse a redução do crime mais grave, o de morte. “Por exemplo, a Polícia Federal, que é bem treinada, bem remunerada e trabalha com inteligência, não precisa provocar sequer um arranhão em uma pessoa. Elas têm seus direitos respeitados. É o mesmo país, a mesma realidade e essa polícia é eficaz. A brutalidade é incoerente. Mas investigação dá trabalho...”, ironiza.

 

            Para escrever Abusado, Caco freqüentou o Morro Dona Marta durante cinco anos, convivendo com traficantes e moradores. “Esse tempo foi bacana, intenso, parte da comunidade adora conversar com a imprensa – infelizmente a imprensa sobe pouco lá. Foi uma das reportagens em que eu mais aprendi coisas. Não imaginava que o buraco era tão embaixo. Naquela época, o Bope tinha uma política de não matar. No período todo em que estive lá, os policiais do Bope nunca mataram ninguém. A política era de se respeitar no morro da mesma forma como se respeitava em qualquer outro lugar. O Bope estava atuando de forma mais eficaz, e o tráfico, na época, estava começando a falir", finaliza.


Crédito:Cris Padilha

Autor:Karen Moraes

Fonte:CR Comunicação