Rio de Janeiro, 15 de Maio de 2024

Ator que vale por dois


Mateus Solano traça um perfil dos gêmeos Jorge e Miguel 
 
 
Caso tivesse que sentar naquela cadeira utilizada como uma espécie de divã para histórias comoventes no fim de cada capítulo de “Viver a vida”, Mateus Solano correria o risco de ficar mudo.
 
Sem receio de parecer insolente ou desrespeitoso, o ator dá “graças a Deus” ao assumir que, ao longo de seus 28 anos, jamais teve que superar uma tragédia ou um trauma.
 
— Qualquer coisa que eu conte sobre a minha vida fica pequeno diante de um depoimento daqueles — reconhece.
 
A modéstia pode até fazer Mateus não enxergar, mas a verdade é que a vida do ator deu uma guinada desde que a trama de Manoel Carlos começou.
 
Aquele que era um rosto conhecido apenas dos palcos e de comerciais de TV (alguém aí lembra do “ligador”?) passou a ocupar o horário nobre em dose dupla com os gêmeos Jorge e Miguel, que tomaram conta da novela e dos corações femininos. Com uma interpretação digna de elogios, Mateus já colhe os bons frutos de seu primeiro folhetim.
 
— Isso de às vezes acharem que são dois atores que fazem os gêmeos é o melhor elogio que eu posso ouvir. Já até escutei que um é feio e o outro, bonito! O fato de não ter a cara muito conhecida ajuda. Se fosse, sei lá, o Fábio Assunção, seria o Fábio fazendo o Jorge e o Fábio fazendo o Miguel — analisa o ator, que logo completa, com direito a dedo em riste: — Mas sem tirar o mérito do meu trabalho, pelo amor de Deus!
 
A trabalheira é enorme. A recompensa, também. Apesar de estar sob os holofotes, Mateus prefere não ostentar o título de galã.
 
— Meu objetivo nunca foi ficar famoso ou ser uma celebridade. É a consequência de estar numa novela das oito. Minha meta é trabalhar sempre — justifica.
 
Para manter os pés no chão, Mateus conta com uma ajuda que tem nome e sobrenome: a namorada Paula Braun.
 
— Quando estou fora de cena, minha mulher me ajuda muito a voltar a ser Mateus — garante ele, com um sorriso que denuncia a paixão: — Desde a primeira entrevista que dei, falei dela. É uma coisa tão espontânea, um amor tão de verdade... Paula é fundamental — desmancha-se.
 
O início da fama de Mateus, que arrematou o papel de Ronaldo Bôscoli em “Maysa”, deu-se após Rodrigo Lombardi desistir do personagem para viver Raj em “Caminho das Índias”.
 
— Entrei aos 45 do segundo tempo — ri Mateus.
 
Se “Caminho das Índias” garantiu a Lombardi um lugar no primeiro time, Mateus tem tudo para ser o próximo escalado. Afinal, por mais que renegue, o galã da vez é ele e ninguém tasca:
 
— Eu e Rodrigo nos encontramos e quis conversar, saber o que me aguardava. Quando o vi bem e feliz, pensei: “Se ele está sobrevivendo, não vou morrer”.
 
Dos palcos para a TV
“Eu estranhei muita coisa. É uma linguagem absolutamente diferente. Não tem nada a ver com teatro e ao mesmo tempo é a mesma coisa. Estou ali representando, né? Mas você faz menor, a relação é com a câmera e com a luz e não com um monte de espectador. Ainda estou aprendendo, levando porrada disso tudo. Sempre aprendi o que fazer e o que não fazer também. Se não gosto de uma coisa, aprendo que não vou fazer de novo. ‘Olha, é assim que se faz errado! Bacana!’. Que venha o acerto, mas que venha o erro também”.
 
Nem tão pequeno assim
“Comecei em ‘Linha direta’, mas foi o ‘Linha direta justiça’! E fazendo o Stuart Angel (filho da estilista Zuzu Angel, que desapareceu na época da ditadura militar). Pode ter gente que diz: ‘Ah, fez participação em ‘Linha direta’, foi um cara que passou lá atrás’. Não, pô, foi uma participação legal! Meu primeiro trabalho na TV e já era filho da Zezé Polessa. Fiquei muito satisfeito”.
 
Na carona de “Juça”
“Na minissérie ‘JK’ tive meu primeiro papel mesmo, com contrato e tudo direitinho. Lá, conheci o Wagner Moura, que foi muito importante pra mim. Dois anos depois, fiz a peça ‘Hamlet’ com ele. Gosto muito quando encontro um ambiente teatral nos trabalhos de televisão. Isso aconteceu com a minissérie. Em ‘Maysa’ também. Agora, na novela, apesar de muita gente não fazer teatro, consigo encontrar esse ambiente familiar que me é tão fundamental para fazer um bom trabalho, para fazer com que eu me sinta em casa”.
 
Vivendo no limite
“Nunca achei que não pudesse dar conta, mas também nunca estive preparado para a fama. Meu negócio é meu trabalho. Quando recebi a notícia de que faria gêmeos, primeiro falei: ‘Pô, que responsabilidade!’, fiquei preocupado. É importante estar nervoso até o fim da novela. Até o Maneco disse isso: ‘Espero que você fique nervoso até o fim da novela’. Mas esse nervosismo estava me atrapalhando no início. Eu acho que estava pior, mais tenso e tal. Mas gostei de tudo desde o começo, estou bem satisfeito com o resultado”.
 
Sem preferência
“Se tem uma pessoa que não pode ter preferência entre os gêmeos, esta sou eu. E não tenho mesmo. Sou apaixonado pelos dois. Eu os crio e os assisto para fazê-los cada vez melhor. A Paula (a namorada) gosta dos dois. Ela defende muito o Jorge porque as pessoas gostam mais do Miguel. Eu adoro isso!”.
 
Amores da ficção
“Esse relacionamento entre o Miguel e a Renata (Bárbara Paz) é meio que uma bola de neve, é perigoso. Acaba se tornando uma relação de dependência. Os dois se gostam muito, mas ela tem um problema, e ele é médico. Isso cria uma interdependência. A Renata sabe que pode se encostar no Miguel e vai piorando. É meio doentio, porque envolve amor também. Já Luciana (Alinne Moraes) e Miguel têm uma energia muito parecida, uma vontade de viver. Eles têm uma energia muito solar. Digamos que o Jorge seja mais lunar”.
 
Falta do Corcovado
“É muita coisa! São dois personagens, tenho que fazer as cenas duas vezes. O trabalho é em dobro, mas a recompensa também. Sei desde o início que só em maio do ano que vem vou conseguir pensar em outras coisas. Sinto falta de subir o Corcovado a pé, por exemplo. De pegar três dias e esquecer um pouco da vida. No pouco tempo que tenho, chamo amigos lá para casa”.
 
Fama por fama? Não, obrigado
“Não saberia dizer o que a fama traz de positivo. O reconhecimento é bacana, o público tem sido muito carinhoso. Mas a fama em si, essa coisa de ser celebridade, não me traz muita coisa, não. De ruim, por enquanto, não aconteceu nada. Tem muita gente que reclama das coisas que inventam por aí. Não me aconteceu ainda. E, se acontecer, ficarei bem chateado”.
 
 
Irmão camarada
“Ele (o bailarino Gabriel Schenker, de 26 anos) tem o mesmo nome do meu dublê na novela (Gabriel Delfino), acho uma coincidência muito legal. Meu irmão é um ótimo bailarino, mora em Bruxelas. Temos uma relação muito boa. Uma pena que ele está tão longe, sinto a maior falta. Ele mora há seis anos fora e vem uma vez por ano ao Brasil, minha mãe às vezes vai para lá. Pude visitá-lo no final do ano passado graças a ‘Maysa’. Ele é meu melhor amigo de toda a vida. Minha mãe diz que, quando a gente era criança, nos bastávamos”.

Quase gêmeo na vida real
“Eu e Gabriel éramos muito parecidos quando jovens. De confundirem na rua mesmo! Aliás, foram algumas fases... Mas sempre vivemos em núcleos diferentes, nunca teve essa de namoradas se confundindo. Nossa relação sempre foi a melhor possível. Teve uma hora em que um era pré-adolescente e o outro, adolescente, e a gente naturalmente se afastou. Não ficava de ‘nhem nhem nhem’, brigando. A gente voltou a se encontrar quando as idades mentais se equilibraram de novo, que, digamos assim, sempre foram muito baixas (risos)”.
 
 
Ah, o amor...
“A Paula é o amor de toda a minha vida. Não estamos casados, mas moramos juntos. A gente é ‘namorido’ e ‘namorida’. Para ela, sou espontâneo como o Miguel e romântico como o Jorge. Paula tem todos os personagens para ela. O ciúme entre a gente é normal, ela sabe que esse assédio que existe é com a figura que aparece na televisão, nada tem a ver com o homem dela. A Paula tem um trabalho superbacana no cinema. É aquela atriz que produz, que dirige, escreve. Tenho muita admiração e muito orgulho por ela, por isso tudo o que ela é. Eu sou só ator”.

Carioca de coração
“Nasci em Brasília, mas sou do Rio. Sou criado aqui. Fiquei lá um ano da minha vida. Meu pai é diplomata e, por isso, a gente ficou de país em país, até que vim para o Rio, com 4 anos, para morar só com a minha mãe. Meu interesse por teatro começou aqui. Brasília não teve tempo de me influenciar em nada”.
 
Criação
“Minha mãe (Miriam) é psicóloga e meu pai agora é embaixador (João Solano Carneiro da Cunha é o atual embaixador do Brasil na República Dominicana). É chiquérrimo! (risos). Sou de uma geração que tem pais que sofreram com a ditadura, que foram muito repreendidos. Fui, de certa forma, mimado, muito bem educado e cercado de cuidados. Meu pai é um artista, toca piano, violoncelo, clarineta... Meus pais fizeram questão de colocar a arte na minha vida”.
 
Início no teatro
“A primeira peça da qual me lembro foi ‘O gato de Botas’, no Tablado, com o Luiz Carlos Tourinho. Tinha uns 5 anos e assisti quatro vezes! Na última vez, sentei no colo do Gato e perguntei: ‘Adivinha quantas vezes já assisti à peça?’. E ele: ‘Quatro!’. Saí correndo, com medo! ‘Mãe! Mãe! Ele sabe!’. Achava impressionante falar com os atores depois das peças. Na escola, eu tinha teatro como matéria curricular, podia repetir de ano se não passasse. Aí, comecei a perceber a importância da arte dramática na vida de qualquer ser humano. Tinha 15 anos quando comecei a fazer cursos. Fiz Tablado e me formei na UniRio, em 2005”.
 
Primeira realização profissional
“Foi quando fiz minha primeira peça no Teatro Tablado, naquele mesmo palco com o qual só estive de frente, como espectador. Eu pensava: ‘Agora estou aqui, do lado de cá!’. O espetáculo era ‘A Gata Borralheira’, da Maria Clara Machado. Eu fazia o livreiro, personagem pequeno, estava substituindo um ator... Mas eu estava lá, do lado de dentro! No mesmo palco onde eu achava mágico ver o Luiz Carlos Tourinho pulando do alto, comendo o rato...”.
 
Filosofando sobre a arte de interpretar
“Acredito que a gente faz teatro para sobreviver na vida real também. A gente acorda e diz ‘bom dia’ para o chefe da gente, mesmo quando o dia não está muito bom. Estamos o tempo todo abrindo concessões e sendo de várias formas para pessoas diferentes. A vida é um grande palco. A gente inventou que tem que acordar cedo para ir ao trabalho, a gente inventou isso tudo. E vivemos nesse grande teatro que o ser humano inventou. Acho isso fascinante. E comecei a me fascinar cada vez mais quando eu vi que existia a profissão, o ofício de atuar. Minha paixão sempre foi essa: a de viver papéis”.
 
A pedido da Canal Extra, Mateus fez um breve perfil dos gêmeos, que foi complementado com a análise da astróloga Mônica Burich.
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Redação

Fonte:Universo da Mulher