Rio de Janeiro, 29 de Abril de 2024

Do lar, com muito orgulho

Abrir mão da carreira para cuidar dos filhos e do marido pode parecer um retrocesso na vida da mulher.
 
Mas acredite: dá para ser muito feliz assim!

 
Quando alguém pergunta à pernambucana Elaine Silva Marinho, de 31 anos, qual é a sua ocupação, ela fala com convicção: “Sou dona-de-casa”.
 
Uma resposta assim, se fosse dada no passado, não faria muito sentido nem provocaria nenhuma surpresa.
 
Atualmente, no entanto, algumas mulheres da idade dela têm vergonha de dizer isso, pois percebem um certo tom de reprovação nos outros ao revelar que optaram por cuidar da casa, dos filhos e do marido.
 
“Já escutei muita crítica e também já sofri muito por causa disso”, conta Elaine. “Hoje, estou segura de que, diante das circunstâncias da vida, fiz a melhor escolha”.
 
A história de Elaine é semelhante à de muitas donas-de-casa que cresceram depois da revolução feminista.
 
Ela casou, teve um filho, se separou e precisou contar com a ajuda da mãe para cuidar da criança em seus primeiros anos.
 
“Eu trabalhava de dia e estudava à noite”, conta. “Muitas vezes, nem via meu filho”.
 
Ao casar de novo e engravidar de seu segundo filho, resolveu não repetir a mesma experiência.
 
Dois meses depois de voltar da licença-maternidade, pediu demissão do emprego como recepcionista de hotel.
 
“Pagar para que outras pessoas cuidassem dos meus filhos estava consumindo quase todo o meu salário”, ela lembra. “ Preferi cuidar deles eu mesma”.
 
Segundo a psicóloga Olga Inês Tessari, mulheres que tomam essa decisão sofrem hoje um tipo de pressão semelhante ao que ocorria no passado com as que decidiam trabalhar fora.
 
“Nadar contra a corrente sempre traz algum custo para a pessoa”, explica. “Hoje em dia, quem faz essa opção sofre muito preconceito”.
 
Mas a psicóloga chama a atenção para o fato de que, às vezes, quando a crítica vem de outras mulheres, ela pode ser fruto de inveja.
 
“Isso é muito comum”, afirma.
 
“No fundo, elas também gostariam de ter um marido que as sustentasse para poderem ficar cuidando da casa e da família”. De acordo com a especialista, não existe uma escolha certa para todas as mulheres. “Depende das suas condições, das circunstâncias da vida e das suas prioridades”, ela explica.
 
A advogada paulista Maria Paula Machado, de 31 anos, tornou-se dona-de-casa por uma combinação de fatores.
 
“Ao me formar, não consegui um emprego bem remunerado. Além disso tinha um filho pequeno e mudei de cidade duas vezes por causa do trabalho do meu marido”, explica.
 
Paula também sofreu por causa da decisão e conta que, para se defender psicologicamente das críticas feitas pelos outros, recorreu a uma postura arrogante.
 
“Quando me perguntavam por que eu não trbalhava fora, minha resposta típica era: ‘Eu não preciso disso, tenho um marido que me sustenta’ “, conta. “Era meu coice de auto defesa”.
 
Segundo a psicóloga Olga Inês Tessari, para aproveitar o que a opção de ser dona-de-casa tem de bom e evitar sofrimento, são necessários alguns cuidados.
 
O mais importante de todos, no entanto, é proteger e cultivar a auto-estima.
 
“Se você está feliz consigo mesma, enfrenta todos os obstáculos da cabeça erguida”.
 
Essa é a chave da felicidade.
 
 
PARA SER FELIZ
 
CONFIRA AS DICAS DA PSICÓLOGA OLGA INÊS TESSARI PARA QUEM DECIDE SER DONA-DE-CASA
 
PREPARE-SE PARA AS CRÍTICAS
O segredo é conseguir não se abalar ao ouvi-las, mas também não reagir com agressividade a elas. E lembre-se: quem critica nem sempre tem a maturidade necessária para fazer esse tipo de julgamento.
 
ENCONTRE OUTRAS PESSOAS
Manter-se isolada do mundo, pensando apenas na casa, é prejudicial a você e ao seu casamento. Procure conviver com outras pessoas, fazer amigos, conversar sobre temas alheios à família.
 
NÃO SEJA SÓ MÃE
Um erro grave é se dedicar apenas aos filhos, sem cuidar de si própria em termos físicos e intelectuais. Faça cursos, desenvolva novas habilidades, mantenha-se informada sobre o mundo, invista em cultura, faça academia. Se você se sentir feliz como mulher, tudo vai bem.
 
CONFIE EM VOCÊ MESMA
Procure combater o medo de perder o marido e não ter como se sustentar. Na imensa maioria dos casos, quando isso acontece, a mulher consegue dar a volta por cima e percebe que o sofrimento foi em vão. Mas é bom, claro, investir em cursos e outras formas de desenvolver suas aptidões.
 
 
Mulheres donas de casa
 
Depois da Beth Friedam ser dona-de-casa virou crime inafiançável, as liberadas de carteirinha dão uma bela torcida de nariz para as ‘fadas do lar’.
 
Eu própria, que fiquei desempregada 9 meses em minha vida, ao preencher um formulário para a matrícula de meu filho numa escola senti-me desconfortável quando me perguntaram minha profissão, mas como digo a verdade doa a quem doer (no caso doeu mais em mim) disse ‘prendas domésticas’, ou ‘do lar’.
 
Já estava até me acostumando ao novo ’status’ mas voltei a trabalhar e nunca mais fui ‘fada do lar’. Mas reconheço que as donas-de-casa são discriminadas agora pelas mais moderninhas, uma autêntica inversão de valores.
 
Se até 30 anos atrás as que saiam para ganhar o sustento fora do lar eram taxadas no mínimo de ‘perdidas’ hoje a que fica em casa é que sofre a discriminação.
 
Ser dona-de-casa não é sinônimo de alienação
 
Quem pensa que todas as donas-de-casa são alienadas que vivem em seu mundinho de tortas e roupas para lavar está enganado, eu já tive amigas ‘do lar’ que eram super-antenadas e que discutiam qualquer assunto com muito mais propriedade que qualquer macho de escritório que conheço.
 
Criatividade, inteligência, cultura e informação não são privilégio das profissionais. Estar em casa não significa estar isolado em casa. E conheço também muita mulher que trabalha fora que só conhece do mundo exterior a sua mesa de trabalho – e olhe lá!
 
 
Dona-de-casa não precisa ser gorda e feia
 
Cuidar-se não é só para quem trabalha, e não é o fato de ficar em casa que faz com que a mulher perca a vaidade ou que deixe de gostar de si mesma. Muitas optam por ficar em casa para ser mães em tempo integral e sentem-se satisfeitas e recompensadas por isso.
 
Tiro meu chapéu para quem tem a coragem de interromper a carreira para criar os filhos, eu não tive tanta coragem assim, segui trabalhando e criando os filhos do jeito que Deus era servido.
 
Não me arrependo, mas reconheço que poderia ter sido uma mãe melhor. Mas imagino que se tivesse parado iria achar ao retomar meu trabalho que poderia ter crescido mais na profissão se não tivesse parado.
 
Vai saber… toda opção envolve perdas e ganhos e cada uma sabe onde o calo dói mais.
 
 
Dona-de-casa não trabalha
 
Muitos maridos pensam que a mulher fica em casa o dia inteiro sem fazer nada, eu que estou de férias é que sei… Fique um dia sem fazer nada e quando seu marido chegar e encontrar a casa de pernas para o ar, a roupa por lavar, e necas de janta, se ele se mostrar surpreso e perguntar se passou um tsunami pela sua casa, responda simplesmente:
 
- Não, querido. Fiquei fazendo o que você acha que eu faço o dia inteiro: nada.
 
A coisa mais chata sobre o serviço doméstico é que ele só aparece se você não fizer.
 
Todos na casa acham natural que a roupa esteja lavada, passada e na gaveta, que a comida esteja pronta e a casa limpa e arrumada. Acho que imaginam que a roupa cresceu passada dentro da gaveta e que o natural da casa é ficar limpa, mas ninguém vê que alguém teve que ralar o dia todo para que as coisas estivessem assim.
 
Quando me perguntam qual meu serviço favorito na casa (se é que existe esse negócio de ’serviço favorito’) respondo que é lavar roupa, porque quando você lava e coloca no varal, pelo menos até a roupa secar dá pra ver que você a lavou. Quando você passa ela some das vistas de todo mundo, então ninguém nota.
 
 
Suporte técnico
 
Encaro a dona-de-casa como o suporte do resto da família, porque se ela não ficasse em casa desempenhando suas funções a vida de todo mundo na casa ia ficar muito mais complicada.
 
E como é que os homens iam fazer pra trabalhar e criar os filhos?
 
Então eu tiro meu chapéu pra elas porque são um símbolo vivo de que doar-se é uma das formas mais bonitas de amar.
 
Mas que doar-se não significa ficar burra nem feia.
 
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Dra Olga Inês Tessari

Fonte:Universo da Mulher